11 de set. de 2013

O túmulo dos heróis



Aquiles e Pentesiléia, princesa das amazonas, cruzaram suas armas numa das últimas batalhas da Guerra de Tróia. Aquiles a derrota, mas ver o seu rosto sem o elmo e isto é o suficiente para fazer o herói grego se apaixonar. Então, o corpo de Pentesiléia é carregado nos braços por Aquiles e entregue aos troianos, para que se possa fazer o sepultamento. É pela paixão de Aquiles que amazona ganha seu túmulo, o que desejara desde que matou a própria irmã em um acidente de caça na ilha das amazonas.
            O túmulo em toda narrativa homérica é algo de extrema importância, pois ele é o signo do herói. A própria palavra grega para túmulo é a mesma para signo (Sema) por isso o poeta era aquele capaz de construir o túmulo do herói. Precisamos de articular uma história para aqueles que tiveram seus corpos vilipendiados no cortejo do progresso, descansem em seus túmulos. Os corpos estão debaixo dos pés dos vencedores, esquecidos, por isso é preciso sepultá-los para que os outros possam ver estes túmulos. Para fazer lembrar daqueles que sofreram a barbárie que toda cultura carrega consigo.

            História deve ser um trabalho de luto, onde rememoramos os mortos para continuara a viver. Por isso, precisamos de túmulos para que possamos ter o signo daqueles sobre qual nosso luto possa repousa. Assim como os poetas escolhem que heróis são aqueles que suas palavras erguerão túmulos, o historiador também assim o faz. Porém, o túmulo não pode ser construído pela empatia, pois o historiador que tem empatia com o passado terá empatia com o vencedor, pois a empatia tem origem em uma inércia do coração, em um mundo que precisa mais do nunca de movimento.

15 de jun. de 2013

A Trama e o Desenlace








Será que Capitu traiu Bentinho? Pergunta que motiva muitas reflexões, mas todas muito idiotas. Nesta pergunta se perde toda a beleza de Capitu e faz em algum sentido Bentinho brilhar.
Esta é a beleza de Capitu:



Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu...  Você já reparou nos olhos
dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada. Pois  apesar deles, poderia 
passar, se não fosse a vaidade e a adulação 


Olhos dados pelo diabo, belos e pouco confiáveis. Capitu é uma espécie de arquétipo de uma experiência, uma mulher que não se pode confiar, mas que nos arrebata, toma de assalto nosso desejo, conquista nosso fogo. Porém, não podemos lhe entregar em mãos nossos corações. Então, temos duas escolhas de morte de Capitu, ao domar seus olhos, conquistar seu amor e ter nos olhos confiança, ou podemos afasta-la e nunca ama-la. Nos dois casos Capitu está morta.


Mas, as pessoas ainda olham para trama em busca do desenlace.  Agora para ver a beleza, precisamos está atento na trama.  



11 de fev. de 2013

O anti-manifesto antropofágico









A cultura brasileira sacralizou a antropofagia, na medida em que é este o caminho para ser criar a genuína arte brasileira. A semana de arte moderna, a tropicália ou o manguebeat estão lá antropafagiando o mundo, mas para que? Não seria isto um agenciamento para que se possa validar a arte brasileira, seria essa condição de funcionamento de um discurso vil? Mas, a questão primordial, talvez, ainda não seja essa.
Mas, sim pensar as razões ou as desrazões que faz ser importante que um artista precise fazer seu discurso funcionar dentro de uma lógica indenitária, onde antes de ser um individuo este fale por um grupo. E este grupo, por sua, vez precise ser todo nós.
E em algum aspecto a distinção eu e ele se transformou no embuste nos e eles. Partindo deste embuste o outro seria aquele que está distante, o bárbaro que não fala minha língua, mas que eu sei de sua existência.
Por isso nossa identidade construída em apartamentos, mas falando de folclore, parece ser uma língua morta. Por mais forte que estes movimentos se transforme, as suas próprias condições de funcionamento, lhe impõe a castração, tal qual um cruzamento de raças diferentes, a final quem são os novos mordenistas? Tropicalistas? Ou os mangueboys? Pois, eles lindam com a distinções claras entre o eu e outro, e já não podemos ser eles, afinal somos o outro deles.
Chico Science dizia - Pernambuco embaixo dos pés e a mente na imensidão- mas, por quais razões Pernambuco não pode ser a imensidão? Ou por que cargas d’água precisamos da imensidão?
A antropofagia se parece necessária para agenciar Pernambuco, enquanto um espaço físico limitado, a imensidão. Pois, a imensidão é uma dessas categorias da linguagem que apesar de ser dizível não é pensável, afinal só conseguimos lidar com conceitos limitados. Mas, ao ter Pernambuco e a imensidão as duas se tornam partes iguais na formação do manguebeat. Resta pensar se é a imensidão que ganha limites ou Pernambuco que se torna imensa

4 de fev. de 2013

Ponto de fuga







Dizem que até centroavante recuado tem de ser perdoado, maldita formação cristã que nos impele ao perdão. Temos de ser infinitamente bons, mesmo que para isso a gente tenha que fazer de conta que não nos incomodamos as ações do bandeirinha ao presidente. E que não é importante o futebol, pois este é apenas uma paixão e as paixões são desejos. 

Desejar é anticristão, é anti-salvação, só sabe isso quem manda o juiz tomar no cu. Mas, também só quem manda sabe a alegria. O quão vivo é sentir a cólera, o quão alegre é a zombaria daqueles que não são iguais a mim, pois escolheram outra paixão. 
E é bom perceber que não somos irmãos, que do lado de cá do torcida o lado de lá são uns idiotas.
No estádio riscamos a linha no chão, erguemos a paliçada, as defesas foram armadas e o cristianismo não passará.


14 de dez. de 2012

Tédio




No mundo dos lugares comuns, o ócio é o pai da arte e da filosofia. Esse mundo tem suas razões, mas ainda acredito que ócio enquanto tempo de reflexão ainda é pouco para explicar a origem da arte e da filosofia.  Talvez o tédio, o mesmo que fez criar toda uma maquinaria de entretenimento, que me parece ser o ponto de partida das criações mais refinadas dos homens.
            O tédio numa madrugada sem sono, o quarto iluminado pela tela do computador, o prompt que pisca no simulacro digital de uma folha em branco...  Pode levar a qualquer um para um cidade sitiada na qual não se pode mais esperar a chegada de cavaleiros rompendo o cerco. Neste cenário, só há uma chance de sobrevivência, romper o cerco.
            Assim sendo, o olho não está mais no prompt. É nas teclas mal iluminadas que o olhar passeia, é um alfabeto sem sentido entre Q e o M está todas as chances da salvação nesta madrugada. Escreve, apaga, fecha o programa, reabre... Mesmo que nada tenha sido feito as ultimas meia hora foram as mais rápidas do todas as insoniferas horas que até tão teimaram em não passar. Mas, escrevendo, apagando, fechando e reabrindo o programa um texto satisfatoriamente esquisito se forma.
            Esse texto não mais filho do idílico ócio, mas filho da outra, do tédio e tédio com um T bem grande. Não sei do ócio, mas alguns outros são filhos do tédio. Pois o ócio seria apenas o tempo em que eu posso me dedicar a algo, enquanto o tédio me impõe ao movimento. Cercando os muros de uma cidade que se amedronta.
            Mas, o cerco é rompido quando as portas das cidades são abertas e o exercito invasor entra triunfante logo percebendo que já não ninguém ali.

11 de out. de 2012

Relampejar da História


            O conceito de memória involuntária presente nas obras de Proust parece ser uma ferramenta para compreender Across The Universe.  Neste filme Julie Taymor, a diretora, faz um passeio pelas temporalidades e historicidades da obra dos Beatles.
            Ao longo de 34 musicas somos levados as décadas de 1960 e 1970, acontecimentos político, sociais e culturas da história.  Esses acontecimentos são extremamente conhecidos, não apontam outro ângulo que nos enquanto estudantes de história não conhecemos. Mas, involuntariamente e mesmo sem termos memórias sobre estes acontecimentos, as músicas fazem saltar aos nossos olhos vivências e memórias que a racionalidade não daria conta sem este estimulo musical.
            Para Proust a memória involuntária é fruto não do que queremos lembrar. Ela é acionada através dos estímulos dos sentidos, o cheiro, o toque, o som... O chá e o bolo trazem memórias aos personagem de Proust, que não as teriam se racionalmente tivessem tentado lembrá-las. Assim, como no filme que emite efeitos através dos estímulos musicais. Assim como as próprias imagens escolhidas no filme, a dança do treinamento do exercito ao som de I Want You (She’s So Heavy) é o que poderia ser treinamento comum, mas é transformado e por conta disso relampeja na mente do telespectador.



            Esse relampejar é o momento importante para historicidade do filme, nisso ele desafia-nos a tentar captar uma nova imagem para o passado, tal como Walter Benjamin conclama ao fazer do historiador nas Teses Sobre o Conceito de História. Na perspectiva do não vivido, não se trata mais de conhecer o movimento hippie, a contra-cultura ou a Guerra do Vietnan tal como eles foram, tal como eles aconteceram, mas é preciso articular um estudo histórico de como eles existem no presente. Ou mais, de pensar como articular esses passados no presente de tal forma que eles ao invés de justificar o mundo ao nosso redor possam criar um mundo. Estabelecer no passado os pontos de fugas para o presente fugir das prisões do dispositivo capitalista.
            E isso é importante ao filme, nesta produção vemos a Guerra do Vietan, mas sem ser posta com causa ou conseqüência de nada, no filme nem ao menos temos o direito de saber quem a venceu, sabemos apenas que Max volta e que ele já não é mais quem era antes. Isso ao som de Strawbarry Fields Forever, que é uma musica falando da infância de Lennon, mas que também era o nome dado ao terreno do exercito da salvação do qual era vizinho em sua infância. Podemos pensar a guerra como a criação também, como o começo de uma nova temporalidade tal como algum crime fundador das mitologias, Prometeus que rouba o fogo, Caim que mata Abel fundam a civilização em seus atos criminosos.


            Mas, não estando em concordância deste mundo a diretora o faz ser estranho ao telespectador, por isso ele relampeja. E esse relampejar e luz e perigo ao mesmo tempo, brilha apenas por conta da força destruidora que o passado pode ter sobre o presente. 

5 de out. de 2012

Medo cotidiano


           


              A luz do cogumelo nuclear ilumina o medo do fim do mundo. As ogivas nucleares apontadas para as potências inimigas, sendo que todos são inimigos e todos têm ogivas. O mundo pode acabar a qualquer momento. Guerra Fria.
            A experiência da guerra fria é a premissa sob a qual supostamente Wachtman encontra sentido, mecanismo no qual a leitura do filme é possível. Porém, é o medo que não precisa de um acontecimento especifico para se revelar que é a experiência que permite a leitura desse filme.
            O medo que nos é ensinado cotidianamente engendra práticas. O medo em sua microfísica cria nossos pequenos expedientes, nossas táticas e maneiras de estar no mundo. Temos medo de não ser achados por isso a necessidade constante de se está conectado, de ter sempre o celular por perto. Medo no transito. Medo de ir em alguns lugares. Temos medo.
            E é esse medo que permite que para uma geração que a Guerra Fria não passa de páginas de livros empoeirados de história, faça sentido. E em certa medida o final do filme não é sacrifício em nome da paz, mas o nosso tributo ao medo. Sacrificamos nossas liberdades, nossas individualidades em nome do medo. Seis mil mortos são nossos tributos ao medo.
            Não a racionalidade de saber sobre a Guerra Fria, mas o medo de ir a esquina que permite compreender a mensagem do filme. Entender o perigo do escuro das cenas, da chuva, da noite, da imensidão ártica no filme é onde a leitura se encontra com as nossas vivências. Por isso o medo não precisa ser explicado, ele é e a partir do que é podemos entender esse mundo a beira da falésia do fim do mundo. 


14 de mai. de 2012

Cotidiano


O cotidiano, tal como é visto hoje, é uma armadilha. Esconde o novo das vivências diárias e faz do fantástico seu oposto. Tentamos esconder nossas artimanhas para criarmos nossos pequenos golpes, nossas pequenas aventuras, nossos pequenos milagres...
Pensar o cotidiano, me leva a três fotos:

O beijo do Hotel Ville

Enfermeira e Marinheiro:


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Protesto em Vancouver:

Três fotos, três beijo. As duas primeiras fotos são beijos que se tornaram celebres, podem parecer instantâneos de beijos espontâneos, mas são fotos que foram armadas. Fotos pensadas pela cabeça de grandes fotógrafos, seus resultados são fantásticos emitem efeito de verdades.
A terceira foto, um beijo durante confronto entre policiais e protestantes pelas ruas de Vancouver. Um flagrante da beleza do cotidiano. Das três fotos aqui exposta é única que não foi armada. E então, podemos pensar como o cotidiano não é tão evidente como esperamos e seus registros são menos ainda.
Aquilo que acontece de mais extraordinário também são acontecimentos do cotidiano. Não existem limites ao nosso fazer diário. Nossos pequenos milagres são belezas que a trama do cotidiano tenta esconder em seus desenlaces.
Por isso temos de está atentos a tudo, afinal o cotidiano tem seus instantes surpreendentes que não anulam ao que se repete, mas se somam. As vivencias são atos de arte, são saltos mortais que são capazes de tirar o fôlego de quem a observas.

26 de jan. de 2012

Palavras e Desejos




Os gênios nos oferecem desejos. São maravilhas e aventuras, charme e espertezas, potes de ouros e corações valentes. Só basta que o desejante verbalize os seus desejos. Poderíamos, então, desejar um mundo novo. Desses que só existem no sonhar dos melhores homens. Os gênios só precisam escutar o teu desejo.
Mas, quantas e quantas vezes nossos corações se enchem de medo por conta dos desejos. O medo nos impele para longe dos gênios. Temos tanto medo de pronunciar as palavras que criariam um mundo novo. De certa forma desejamos revoluções e quem menos que isso deseja não deveria ter direito ao desejar. Verbalizar as palavras da revolução é difícil.
A dificuldade está nas nossas amarras ao mundo que a revolução destruirá. E são amarras boas, nos alegram, criam sentidos para nossas vidas. Mas, nos amarram. Não impedem, mas nos amarram. Nem mesmo pedem que continuamos a viver nesse mundo. A revolução não será indolor.
Não é de se estranhar que nos reinos das fábulas o que comumente chamamos de gênios são tidos como demônios. Não pela negação do desejo, mas pela realização tal qual o que se deseja. São seres amorais. Feitos para conceder desejos a qualquer custo.
Mas, nem sempre é fácil verbalizar os desejos e os gênios precisam de verbos, precisam se deliciar com “Eu quero...”. E só poderemos pedir mundos novos. E ao pedir isso os nossos antigos mundo seriam no mínimo abalados.
A revolução só existe com dor. Assim como a mãe que sofre para dar a luz ao um filho. Assim, proferir as palavras do desejo podem trazer um mundo desejado e causar uma dor indesejada. E estamos sempre nessa corda bamba. É um mundo incerto, onde o que é sólido desmancha no ar.
Onde desejos e sonhos entram clandestinos em nossos mundos. Corroem tudo que até então era certo e estava bem, te dão medos e alegrias sem te pedir nada em troca.



8 de jan. de 2012

Caminho de Vilania




Pode ser que o mundo seja este local vasto, que vá além dos meus olhos. Eu até creio que exista lugares que fogem do alcance dos meus olhos, mesmo que seja difícil de acreditar que exista um mundo sem meu eu para contemplá-lo. Talvez, realmente eu não tenha a centralidade que espero ter no mundo.
E eu acredito do fundo das minhas bobas convicções que tudo é absurdo, que não existe um sentido que impere nossos caminhos. Chego cogitar que foi ao acaso que te vi pela primeira vez, que talvez eu pudesse passar toda essa vida sem ter te encontrado. E por fim penso que tudo isso pode ser verdade, as vezes até acredito nisso tudo.
Mas, ai eu te vejo...
E ai destas convicções! São tolas, fruto de livros de filosofias, de história que não foram escritos sobre nosso encontro. Estas convicções caem e quando você sorrir para mim, só para mim, eu sei que todos esses talvez são bobos. E sei que nosso encontro faz todo sentido. Era para ser tal como foi e não poderia ser de outra formar e que o destino pôs nossos caminhos juntos.
Assim, eu sei. E sei que eu estou pensando tudo errado por sua causa e então rindo de mim mesmo percebo-me feliz. Pagar o caminho errado por vezes é muito mais divertido, uma lógica de coisas erradas deveria ser experimentada volta e meia.
No fim das contas se teus erros te dão sorrisos, qual seria a utilidade de teus acertos? O Caminho do vilão, o caminho do erro é invejável. E é por essa inveja que dizemos que este caminho é um erro, que é um caminho de vilania. Conseguir pensar para além do bem ou do mal é conseguir pensar levando em conta as risadas que errar pode nos proporcionar.   



5 de jan. de 2012

Sinais e Ruídos




Então, as palavras faltaram ao encontro. Sentimentos indizíveis e sinais ruidosos. Talvez, as cartografias sejam as mesmas e eu olhando com novos olhares. Sinais e ruídos.
Dever ser o fim do mundo, um fim do mundo destes que já vimos, revimos e veremos. O mundo sempre acaba para alguém. Neil Gaiman e Dave Macken em Sinal e Ruído nos mostram que o fim do mundo já aconteceu algumas vezes e nesta obra eles contam dois finais do mundo. O primeiro em filme que se passa nos últimos minutos do ano 999 d.C. filmado inteiramente na cabeça de um homem preste a morrer. O homem preste a morrer é o nosso segundo fim do mundo.
São sinais ruidosos e ruídos que emitem sinais. O mundo sempre acaba e sempre continuamos. Um passo após o outro e continuamos. Resistirmos à falta das palavras, aos sentimentos indizíveis, aos sinais e os ruídos. E tudo isso é fim do mundo. Fim do mundo todos os dias da semana.
O mundo vai acabar, mas não precisa cai no clichê de viver sua vida como se não houvesse amanhã. Eu prefiro o caminho inverso, vivendo na direção do fim do mundo e fazendo o que faz sentido para está.
Quem venham os sinais e os ruídos...
  

21 de dez. de 2011

Esquina





Eu vejo as pernas de louça da moça que passam e eu não posso pegar,
Tô me guardando para quando o carnaval chegar
(Chico Buarque, Quando o Carnaval Chegar)









Talvez o Chico esteja certo, uma hora para tudo e para tudo uma hora. E o carnaval sempre chega, não é mesmo?  Talvez o mundo esteja certo, o Chico está certo, tudo está certo. Mas, eu não preciso/quero está certo. Talvez um tanto de teimosia e outro tanto de cinismo, mas eu não quero está certo. Eles podem até ter razão, mas a razão é só que eles têm. Eu não quero me guardar para nenhum carnaval. O carnaval deve ter lá suas razões. O defeito deve ser meu mesmo, eu admito.

É ruim pegar o caminho oposto, mas é bom, mas é ruim, mas é bom, mas é ruim, mas é bom... Ah é a vida. Enquanto tantos esperam o carnaval chegar, eu prefiro está na esquina e desejar o agora e o amanhã também, amar ontem e depois de ontem também. Amar e desejar são verbos que eu prefiro conjugar em mais de um tempo simultaneamente. Afinal eu não quero a economia do desejo.
E é o amor, por mais piegas que isso seja, que rompe essa economia do desejo. Eu desejo ela ontem, hoje e amanhã, não preciso guardar isso para o quando o carnaval chegar. Talvez isso seja ruim, mas é bom, mas é ruim, mas é a vida.
Tudo isso possa ser um defeito, não necessariamente meu. Mas, eu gosto do efeito desse defeito em efeito dominó. E esse é necessariamente meu. Vocês que se guardem para o carnaval! Que eu vou ficar por ali, naquela esquina entre o Carnaval e Dia de Finados, um bom lugar para olhar o movimento. 







20 de dez. de 2011

Narrativa






O fogo crepita e as histórias foram contadas. Algumas ecoam, reverberam ao longo do tempo e chegam até nós. Quantas e quantas vezes vimos o mito da caverna? Sem percebê-la tal como já fora contada antes, está lá em Platão, em Matrix, no Ensaio sobre a Cegueira, na Cidade das Sombras, em Vida de Inseto...
Existe algum poder nestas narrativas. Estão para além do bem e do mal, não se preocupam com o tempo presente. Camuflam-se, entram clandestinas em outras narrativas, ocupam espaços que não deveriam ser seus. Deve ser alguma força que nossos olhos perecíveis não conseguem captar e por isso não podemos guerrear com elas.
Porém, já não precisamos deixar que estas narrativas determine o seus sentidos. O mito da caverna hoje não se trata mais de uma busca da verdade. É preciso pensar em outros sentidos, em outros caminhos.
Criamos o mundo nestas narrativas, traçamos cartografias, inventamos espaços e fronteiras. Por isso que não podemos deixar que as mesmas narrativas criem o nosso mundo. É preciso assumir as redás.
Que ergamos paliçadas, que as defesas sejam preparadas, a risca foi traçada e eles não passarão.

15 de dez. de 2011

Da força da fragilidade





Das maiores fragilidades que os homens têm, o coração me parece posto em lugares inadequados. Tido como frágil, pois pode ser partido com palavras igualmente frágeis. Mas, que bombear sangue para o resto do corpo sessenta vezes por minuto, durante toda uma vida.
Talvez o coração possa ser frágil. Mas, isso não exclui a força deste músculo que mesmo partido, não para, pulsa e doe, pulsa e se alegra, pulsa... Pulsa mais e mais.
Talvez as nossas vidas sejam toda essa fragilidade, uma fragilidade de pequenas coisas grandes. Sorrisos, olhares e toques. Tudo tão frágil, mas tudo necessário. No fim, estamos o tempo todo neste relampejar de coisas frágeis e fugidias. Em encontros que não podemos delimitar os quais reais são. São segredos velados que se contados os outros nem acreditariam. Um mundo de verdades, todas elas igualmente frágeis.
As nossas fragilidades nos leva para o andar na corda bamba e é justamente isso que nos força ao equilíbrio. Então, que nossos corações se encham de coisas frágeis e miúdas, frágeis e enormes. De todos os sorrisos, olhares e toques.


9 de dez. de 2011

Contradições


“Cante mais uma vez comigo
Nosso estranho dueto
A beleza da sua voz
E a força da minha dor”
(Fantasma da Ópera)

Uma cantora lírica, voz sua suave, técnica, perfeita. Um cantor de rock, vigoroso, ousado, emoção mais que técnica. Um musical clássico, popular, conhecido por todos. Desta vez subvertida, por arranjos pesados de guitarras distorcidas, marcado por uma linha de baixo e uma bateria encorpada, apenas alguns toques de teclado para não esquecermos que se trata do Fantasma da Ópera.
Tudo um tanto inusitado, aos olhos que de longe vêem, tudo fazendo sentido para que acompanha de perto. O dueto da força e da beleza, talvez poucas vezes fez tanto sentido.
Quantas e quantas vezes vamos ter nos surpreender com as diferenças que somam para construir o belo? A beleza do outro está justamente em ser o outro. A oposição, a contradição são invenções e não inventos. Criamos todos esses lugares. Mas, para que eles nos servem?
Caminhos que partem direção opostas, mas que se encontram. Afinal o mundo é redondo. Encontros ao acaso entre forças diferentes. Dor e beleza, força e delicadeza. Caminhos que se somam.
A lógica não é dada a priori , assim como a beleza destes encontros inusitados. Acasos que seguem, na busca de caminhos alternativos.


5 de dez. de 2011

Entre sonhos e amores perdidos




Ela, uma raposa, astuta e ardilosa e magíca e inventiva. Ele, um moge, calmo e gentil e obstinado. Uma aposta. A raposa deveria fazer o monge abandonar o monasterio, onde era o único morador. No topo de uma colina, onde o resto do mundo era apenas um sonho distante. Onde os sonhos não carecianham de interpretações, eles estavam lado a lado dos demais seres.
Mas, a raposa não pode vencer a aposta, ninguém poderia. Ela desiste mesmo de tentar. Ainda mais agora que a raposa não queria está em outro lugar. E este lugar é o monge. Ela o ama, mesmo que as diferenças sejam tantas, mesmo que este amor seja impossivel, ela o ama. Talvez ela não goste de amá-lo. Talvez ele nem mesmo possa saber deste amor. O amor deles é tantos talvez que mesmo a mente mais inventiva não poderia estabelecer uma cartografia. Não existe um espaço seguro a raposa. Ela é sempre vim a ser. Um devir de coisas muidas que só existem no sonho de quem observa o monge e a raposa.
As apostas do passado já não importam. Em algum momento elas foram o acaso do encontro, mas agora, só existe o agora. O passado está tão distante quanto o sonho que precisa ser narrado para ter sentido.
O monge está em perigo. Sua alma vale um prêmio para um mago nas trevas. E é inevetival a morte do monge, a raposa sabe disso. Mas, ela não aceita. Não pode aceitar! Não! Não mesmo. Ela está desesperada. Ela corre pela noite, rasteija pelas sombras, mergulha nas memórias, vai ter com o próprio sonhar para impedir a morte de monge.
O sonho lhe diz que ela precisa capturar o sonhar do monge. É preciso se agarrar ao impossivel. E ela o faz, faz mesmo que custe a sua própria vida. O monge está salvo e no outro dia nem saberá do que aconteceu, não sabe quão real é o sonho.
Os amores e os sonhos não estão tão distantes. Quantos amores passados são como sonhos que só existem com o acordar? Que precisam ser narrados para existirem, talvez toda história seja esse recontar o sonhar. Talvez, não saibamos de todos os amores perdidos, pois, talvez não exista amor perdido. O passado enquanto sonho e os amores quanto acaso. A raposa e o monge são amores que não se realizam, mas, que brilham por conta das possibilidades não construidas. De tudo que ainda não foi, mas que pode ser narrado. Inventado, sonhado e amado por todos nós que aqui estamos.


29 de nov. de 2011

Desejo


O vento sopra e por causa disto as asas do anjo impendem que ele pare. O progresso é inevitável. Mas, ele gostaria de conseguir parar o tempo e por isso seu desespero. Ele quer... Apenas quer, por instante que fosse gostaria de subjugar o mundo ao seu desejo.
Ele gostaria de impedir o passado. Gostaria de ter sido mais educado com aquele desconhecido. Gostaria de ter sido mais sincero com as pessoas que ama. Gostaria de impedi-la, pediria que não fosse com ele, ele teria gostado até mesmo de só pedir, mesmo que a resposta fosse não. Gostaria que a tivesse conhecido antes do próprio tempo existir, naquele instante que o sonho e presente são feitos dos mesmos sorrisos. O anjo andaria com suas asas fechadas para não ser preso e escravizado pelo o vento do progresso. Tantos desejos... Desejos.
O passado vai se acumulando as costas. Ele só pode olhar e desejar parar o passado. E ele deseja isso ao ponto de arriscar tudo. Talvez, ele não arrisque, talvez apenas deseje. Mas, bastaria apenas uma centelha de esperança, apenas uma centelha para que anjo corte as suas asas.
Ele cairia provavelmente longe de tudo aquilo que tanto deseja. Cairia e talvez nem mesmo sobrevivesse, talvez... São escolhas que o desejo lhe impele fazer. E o reinado do desejo é imperativo e cruel.
Estamos sempre entre as balanças do desejar e do realizar. Fazemos nossos corações de cárcere do desejo, quando não fazemos do desejo o carcereiro. Talvez, devemos tomá-lo como conselheiro. Escutar-lo. Precisamos confabular com o desejo as revoluções. Tomá-lo como amigo.
Assim, o sofrimento da queda do anjo será aliviado pelas palavras doces do desejo. O desejo não pode nos imperar, mas talvez possamos de fazer-lo de amigo, de irmão e irmã.
O anjo da história não consegue parar o vento do progresso, talvez ninguém consiga. Porém, talvez ele possa corta a sua asa e enganar o jogo. Isso seria a revolução que faria explodir o continuo do tempo e realizar o seu desejo.
Mas, talvez ele tenha medo da queda e sempre ponha a culpa de sua covardia no vento que sopra do paraíso. A queda pode ser dolorosa,  mas será melhor do que nunca ter arriscado colocar seu pé no chão.

28 de nov. de 2011

Dos amores perdidos




Naquele instante Romeu não saberia mais viver, Julieta fria e falecida aos seus olhos. Então ele se mata e ela acorda. Também se mata. Talvez o maior casal já criado na literatura.
Mas, a grandeza não é morrer de amor. O amor não é simples assim. A grandeza deste casal é ter encontrado alguém que morra pelo o outro. Romeu não morre pelo amor, ele morre por ter perdido alguém que morreria por ele.
O amor deles não era nada civilizado. Não tinha recibos de motéis, nem família no sofá em um dia de domingo. Quando juntos não viajavam ao passado, nem faziam planos para o futuro. Nem presentes de namorados. Era só o amor que já não buscava nada, apenas o olhar do outro, mesmo que para isso o mundo fosse desafiado numa cena de balcão.
Ele e ela encontraram o que quase todos buscam. Alguém que seja capaz, do fundo de nossos covardes corações, de morrer de amor em nosso lugar. Mas, isto nos coloca em uma armadilha, pois, um “amor assim quando não morre mata e amores que matam não são de morrer” (Joaquin Sabina). Então, eles morrem.
Ao morrer eles nos oferecem seu coração. E selam a paz quando tudo estava perdido. Acabaram por criar um amor depois do amor.

8 de nov. de 2011

Esperança




O futuro é uma ameaça, ele muda o presente constantemente. Suas configurações não são claras, os fios que o tecem não são visíveis. E as distopias estão sempre a espera. Em Filhos da Esperança o futuro é sombrio. Distópico.
            A humanidade é incapaz de procriar há 18 anos. Um mundo sem crianças. O desespero agrava os problemas, guerra, xenofobia, solidão, consumismo, apatia... É um fim do mundo calmo e silencioso. Nada de explosões nucleares, desertos e gangues de motos. Mas, assusta.
            Uma mulher engravida. Negra, imigrante e solteira. A esperança volta ao mundo. A esperança então é caçada, pois ter esperança neste mundo tão próximo ao nosso é ter um poder inacreditável. A criança é buscada. Ritmo frenético, afinal é um filme de ação.
            Em momento de calmaria o herói e a grávida conversam. Quem é o pai dessa criança? E ela responde que é virgem. Depois vêm os risos. E eu assistindo maravilhado. Quando ela diz que não poderia saber quem é o pai, pois vários homens passaram pela sua cama.
            Em um dialogo em meio a tantas cenas de tiros e perseguições, eles matam deus e sua ética. Pois, foi ela que nos levou ao fim do mundo. Agora, nossa criança messiânica é filha do prazer, é filha da renegada, é filha do que queríamos esconder. Messias demasiadamente humano.
            Subverter a ordem é o papel do messias. Pois é a ordem que nos ameaça. Ela sinaliza um momento de perigo. E assim podemos pensar que podemos ser melhores se deixarmos de tentar ser tão bons.  


7 de nov. de 2011

Astucias





Penélope espera Ulisses. A mesa de sua casa é lugar de disputas e ela não pode fazer nada. É a tradição. A mão dela é a coroa de Itaca e eles sabem disso, eles querem isso. Mas, ela espera Ulisses. Já se foram dez anos.
De alguma forma ela sabe que Ulisses retornara. Fé é o motor de sua espera e ela espera. Mas, a tradição vem cobrar o seu preço e ela precisa escolher para desposar um entre tantos candidatos, porém ela não deseja nenhum deles. É a tradição que manda.
Então a inventividade dela vem à tona. A astucia de Penélope lhe salva. O acordo entre ela e os seus pretendentes é escolher um depois de tecer um tapete. Ela tece o tapete todos os dias. Dia após dia. Eles esperam ela terminar. Dia após dia eles esperam.
Mas, as astucias de Penélope se revela. Ela tece de dia, mas a noite destrói seu trabalho. Noite após noite. Ela ganha tempo para esperar Ulisses.
Precisamos aprender as astucias de Penélope. Precisamos nos criar, mas precisamos mais ainda nos destruir. Nossa salvação está na destruição de quem somos para podermos nos criar, recriar. E é preciso que nossas identidades sejam criadas de formas mais inventivas e que sejam destruídas de formas mais inventivas. É preciso que possamos quebrar nossas regras, nossos acordos. Assim como Penélope. No final novamente nos salvamos de formas impensáveis.