3 de nov. de 2010

Caídos




Os caídos chamam atenção da narrativa de tempos imemoriais: Lúcifer, Darth Vader, Adão e Eva... São decaídos que povoam nossos imaginários. Eva a cair no pecado, criou a humanidade tal como conhecemos. Completou a obra de Deus. A construção da humanidade começa pelo pecado de Eva.

E sempre é o mais belo que cai, Lucifer ou Darth Vader são os mais poderosos e foram aqueles que caíram... A queda é a beleza de suas histórias e onde o mundo é ressignificado.

O mais belo dos lanternas verdes caiu a muito tempo, Sinestro, cai e se torna o próprio Lúcifer. Portando o anel de luz amarela e dando sentido a luta dos lanternas verdes , que são como os anjos de Deus.

É o antagonista que dita o tamanho do herói, é no embate que nasce o herói, por isso glorifica teu inimigo, pois, é ele que dita quão grande você precisa ser.

29 de out. de 2010

Messias contra as utopias

Messias e espera são coisas imanentes ligadas... Em Segundo Advento os X-mans esperam o messias da raça mutante, mas, por que diabos sempre se espera um messias que está no futuro? E esta imagem é muito presente, pois, o messias vem literalmente do futuro. A fé no progresso é fé no messias vindo do futuro.
Mas, esta espera não é uma utopia. Ela é fruto da incapacidade de tomar as rédeas da vida. A utopia impeli a busca e espera do messias é estática. A religião cristã vive sem utopias e a espera do messias é o norte do futuro.
E o cristianismo tem nas utopias um inimigo, a teologia da libertação foi extirpada do catolicismo, o comunismo. O mundo melhor não pode ser buscado, ele é um presente do messias.
Mas, se este mundo do messias não for o mundo perfeito para os homens?
A espera é sem sentido, o sentindo está no caminho da utopia...

4 de out. de 2010

Simulacro de Alteridade


Uma estudante de medicina, em sua residência, foi alocada na maior emergência hospitalar de seu estado. Nas primeiras horas se deparou com 3 baleados e 2 esfaqueados, todos em estados gravíssimos... Ao final do dia ligou para seu orientador e pedira pra trocar de hospital por que não queria mais este tipo de situação.

É muito estranho um médico que onde ele é mais necessário, resolve não ser o herói, escolhe o caminho mais calmo e conveniente; Eles deveriam tentar salvar vidas até mesmo quando tudo diz que é impossível, mas, a maioria escolhe a profissão por conta do prestigio do cargo, poder e uma boa remuneração; lamentável...

Mas, de maneira semelhante se encontram os heróis. O Homem-Aranha já desistira de ser herói algumas vezes, Super-Homem já se tornara ditador, Ciclope e a Fênix já tentaram ser um casal normal. Uma vez que a escolha de ser herói é uma escolha pelo poder.

Os vilões se diferenciam por não entender o poder exercido pelo imaginário, eles só entendem o poder em sua estreita relação mundana, onde o endeusamento no imaginário é uma construção inexistente.

Mas, tudo isto é uma questão de escolhas feitas pela cultura ocidental que de tão centrada no individuo a alteridade heróica se torna simulacro para exercer poder. Médicos e Heróis são escolhas para si, em sua grande maioria dos casos, seus objetivos são ser-para-si e ponto final.

30 de ago. de 2010

Quem sempre quer vitória perde a glória de chorar


Um filme de Kung-fu que os personagens evitam o confronto, mesmo que em sua arte marcial exista até mesmo a possibilidade de dominar as forças da natureza. O último mestre do ar narra essa história de ação zen, onde vencer o inimigo não é criar o derrotado. O filme não foi muito bem com a critica americana.

A sociedade americana é a sociedade do vitorioso, é preciso vencer a qualquer custo. Mas, a vitória é para fugir do derrotado, do Loser. Então, O último mestre do ar não consegue emplacar.

No filme em questão não se trata de vence ou perder, a questão é transformar, Ang (o Herói em questão) é o maior dos poderes, mas, mesmo assim não o usa de maneira imperativa.

A filosofia zen não é o caminho para a sociedade performática, e ainda mais no cinema que a performance é parte quase totalitária da obra. O filme, então, passa a seguir na direção oposta em uma rua de mão única.

O caminho do herói passa a ser a mudança, mudar a arrumação da ordem do mundo não será apenas vencendo no sistema, mas, sim vencer o sistema. E o sistema-mundo que precisa ser destruído é o da força. O poder não pode ser argumento é por isso que Ang se torna um herói impar, mesmo que as vezes ainda precise de seus poderes.

27 de ago. de 2010

A ordem subvertida

Na mitologia nórdica aqueles que morrem com honra no campo de batalha se tornam merecedores do Valhala (ema espécie de paraíso para guerreiros) onde eles lutariam até o Ragnarök, que o crepúsculo dos deuses, onde até os deuses vão lutar até a morte.

É esta a beleza do modo de viver destes nórdicos. A vida, dentro de seu sistema de valor, é tão valorosa que o pós morte é o que o mais os enobreciam em vida: A guerra. O paraíso é totalmente subordinado a vida, pois, a vida é o maior dos pesos.

A nossa sociedade subverteu está ordem, o cristianismo conseguiu desvalorizar a vida. A vida é apenas um meio para se chegar ao paraíso, enquanto o Valhala só é um bom lugar na medida em que possibilita a existência da guerra, que é onde a vida se torna maior e mais valorosa.

A guerra quanto valor pode até ser criticada, mas, abandonar a vida é o grande erro cristão. Não é possível aceitar a negação da vida, é por isso que os símbolos e elementos pagãos que não foram assimilados acabaram por ser demonizados pelo cristianismo.

11 de ago. de 2010

A dança do tempo



"O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer” (Walter Benjamin, Teses sobre o conceito de história)



Em V de Vingança o partido fascista se apóia na formulação da história contada sobre atentados terroristas, a criação desta experiência histórica do medo é o que permiti para a ditadura se perpetuar. A nossa ditadura de 64 se apoio em uma construção semelhante se usando do medo do comunismo.

Somos seres Na e Da história, por isso que qualquer forma de governo precisa se justificar de forma histórica. Para os governos é preciso criar a tradição que o vai manter no poder e esta criação é na história ou até mesmo a própria história.

A história não é o acumulo dos acontecimentos que precisa ser escavados para se descobrir a verdade, ela é arrumação destes acontecimentos vistos por um prisma que justifique o discurso de quem a constrói.

Por isso que V precisa vencer a própria história instituída tanto quanto precisa vencer seus inimigos fascistas. O historiador não apenas aquele que monta uma narrativa, mas, também é aquele a destrói. Tal como Penelope[1] que a noite destrói o tapete que tece de dia para assim chegar em seu objetivo, o historiador precisa destrói a própria narração histórica para possibilitar a construção de novas possibilidades.

Por isso que V precisa destruir a história contada pela ditadura. Isto ao lado de sua vingança pessoal é o consome o maior esforço de V durante a trama.

Na cena final é possível ver todas as pessoas salvas pela possibilidade de salvação e entre elas estão todos os personagens que foram mortos para pela ditadura, pois, nem eles estavam a salvo na história.



[1] Personagem da Odisseia: esposa de Ulisses, rainha de Itaca


Epifania


Em V de Vingança uma nova fase será iniciada quando O Codinome V destruir o prédio do parlamento inglês, que é o belo prédio onde fica o Big Bem. Mas, destruir um prédio histórico é um crime, importante para não apenas a Inglaterra como para o Ocidente.

Ai que reside a epifania da ação “O crime fundador”. Em muitas narrativas míticas os crimes, os erros, os pecados, os desvios são os momentos mais importantes da humanidade. Adão e Eva comem do fruto do conhecimento e iniciam a jornada humana na Terra; Caim mata Abel e funda-se a civilização; Prometeu rouba o fogo dos deuses e a humanidade sai das trevas...

Não é no ato heróico que reside a epifania nestas narrativas e o mesmo se emprega a V de Vingança, onde V nunca quis ser herói, onde só precisa-se de uma faísca para acender o brilho dos olhos da população. V estava lá não para salvar as pessoas, nem para mostrar o caminho para a salvação, ele aponta para a possibilidade de salvação e a destruição do parlamento é o momento de fundação desta nova possibilidade.

Um crime fundador de uma nova era, um erro cometido em nome da construção da possibilidade, é a epifania que a explosão faz brilhar nos olhos da população. Explosão vista até pelos mortos tal é catarse da própria história, onde V não inventa sentido para história, mas, sim o destrói a arrumação da história ao longo do filme.

Por isso a destruição do parlamento é crime epifanico.

7 de ago. de 2010

Nova ordem


Ela com um toque é capaz de absorver a energia vital de qualquer um, ele a ama. Ele é capaz de conquistar qualquer mulher, ela incapaz de beijar o homem amado. Juntos são separados, incapaz de realizar o amor tal qual conhecemos. Mas, o que se pode conhecer sobre o amor?É a beleza do mistério.

Gambit e Vampira[1] realizam o seu amor dentro de suas possibilidades e transformam suas possibilidades em amor. É na superação do modelo de relacionamento normal que reside a beleza desta relação, é na criação de algo novo e único que reside a beleza do amor.

O amor é inesperado, de forma total para qualquer um, principalmente para aqueles que mudam a ordem e é nesta mudança da ordem que reside a força. Mas, no fim das contas é apenas o amor que acontece...

Um amor sem toques é uma anormalidade, mas, o que é normal no amor.


[1] Personagens de X-men

4 de ago. de 2010

A beleza do mistério


Um mágico que decide revelar os segredos dos seus ofícios, mascarado tal como um herói... Porém, o que deveria ser a destruição da áurea da mágica não foi e este herói falha em sua missão.

A revelação dos mistérios não é capaz de destruir a áurea da mágica, pois, ela acontece de maneira racional. Truques, engrenagens, espelhos e fumaças são revelados de frente as câmeras de Tv, mas, ainda é pouco para a nossa imaginação.

Sabemos desde de tempos imemoriais que os mágicos fazem truques, saber como são estes truques não foi capaz de destruir a mágica nas nossas mentes. Muito pelo contrario, saber que é um truque aguça nossa curiosidade, as astucias do mágico é astucia de Ulisses.

Não somos seres racionais é ai que o mistério da mágica se aproprie do caráter épico humano que é o mistério, o inexplicável, onde a inércia da razão é apenas um espectador deslumbrado do que não consegue explicar.

Não na cabeça que reside este caráter épico é no coração, onde somos imortais, onde podemos realizar milagres, é onde todos os homens são Ulisses, Jasão, Hércules até mesmo deuses.

19 de jul. de 2010

Dentro do Capuz

"Mas você e eu, nós já passamos por isso,
E este não é nosso destino.
Então, vamos parar de falar hipocritamente,
Está ficando tarde." (Bob Dylan)


Eles vigiam as ruas, estão à espreita para salvar ninguém sabe quem de qualquer perigo que não se sabe qual... De modo geral os heróis tal como se apresentam hoje não têm planos ou projetos, isso é o que os distanciam da humanidade. Vivemos traçando projetos que nunca se completarão, onde a vida deveria ser o maior dos pesos.

Os heróis saem de suas casas indo atrás de alguém para salvar, O Outro para o herói é apenas a vítima. Não existem projetos sem O Outro, uma vez que a dimensão dos que nos rodeiam deveria ser o principal. Mas, você poderia dizer e o altruísmo dos heróis? Ele não existe.

Ao balançar suas redes pelas ruas o Homem-Aranha deve ver mendigos, crianças de rua... E o que ele faz? Continua atrás de vítimas para serem salvas. O que importa para os heróis é vítima e não o outro.

É por isso que a máscara é necessária, pois, o primeiro Outro é o Eu. O Eu então está sufocado atrás da máscara, e esta troca é necessária para conseguir coisificar um rosto. A criação da máscara do herói é uma coisificação que nunca poderia ser o rosto do homem por de baixo do capuz.

16 de jul. de 2010

Vítimas e Heróis




Já não podemos aceitar heróis que são vítimas, mesmo quando as tragédias que os formaram estas não podem vitimá-los. A tragédia é vida e nos, seres humanos, somos trágicos e de fato parece ser um destino manifesto, mesmo quando somos cômicos.

Mas, o mundo ainda é cristão... E este mundo cristão é dado escolher a vítima como herói, é o crucificado, aquele que sofre, o que sangra é que se torna herói. Por isso, que os heróis são vitimados em suas genesis, filhos da dor, Batman, Super-Homem, Homem-Aranha... São os que sofrem, por isso são heróis.

Mas, a esperança se reacende em suas roupagens novas, em The Dark Kingnight a morte dos pais de Batman não é si quer citada, não passa de um passado que já passou. Ainda é preciso fazer mais, é preciso vencer a vítima, mas, vários heróis já não são mais vitimas, Homem de Ferro, Capitão América... A existência desses heróis que não são vítimas é a esperança.

O cristianismo já teve dias melhores...

7 de jul. de 2010

Vingança da Arte




O cinema é obra de arte na sua reprodutividade técnica, uma arte que não existe o original no qual a copia do filme tem o mesmo valor que filme em si. Os quadros representam o contrario, um Caravaggio original tem valor inestimado enquanto a sua copia mais fiel nada vale.

Existe uma razão lógica para isso, os custos de fazer um filme não permitem que exista apenas uma cópia da obra. Seria inviável produzir cinema para poucas exibições e poucas cópias. O cinema mata o caráter físico da obra, apenas o conceito pode perpetuar.

Esta dessacralização da arte no cinema é o que permite a criação de uma indústria cinematográfica, que encontrou espaço no EUA para se desenvolver ao ponto de produzir o filme mais caro da história[1] em plena crise econômica mundial.

Sendo uma indústria capitalista o lucro é objetivo principal e esta é a morte do ideal de arte. Porém, existem espaço de navegação entre poderes capitalistas e na construção de um filme que atenda minimamente o mercado e arte que se pode encontrar esperança.

V de vingança é esta obra de arte e de mercado onde seus ecos se encontram no protesto de Hong Kong, onde V personificou o desejo da democracia. Se existir um Sistema ele é instituinte do filme V de Vingança, mas, não é instituído pelo filme. O Sistema falha em V de vingança e é ai que reside a vingança da arte.


[1] Avatar de James Cameron

2 de jul. de 2010

Estetização da Revolta


O povo por vezes precisa de uma faísca que o impulsione para o movimento, faísca essa que nem mesmo precisa ser real, nem mesmo precisa ser uma ação ou uma pessoa, os movimentos precisam de idéias. Mas, a arte pode estetizar idéias, pode criar um rosto para conceitos.

No dia 1 de Julho de 2010, cerca de 50 mil chineses saíram para protesta contra o governo nas ruas de Hong Kong. A grande causa do protesto era a falta de democracia. Dentre os que protestavam um grupo se encontrava com a máscara que personificava V no filme V de Vingança.

Para esse grupo a força da revolta encontrou sua estetização na máscara de V. O que deveria ser mais um filme bobo de Hollywood feito para faturar uma porrada de dólares, virou para aqueles que protestaram com o rosto de V no lugar do seu próprio um símbolo de sua idéia, a personificação de suas vontades.

Eles não eram V, eles não precisavam ser, V é usado para comunicar suas revoltas. A estetização da revolta é o que é o rosto de V neste protesto, a máscara é uma mentira que explica a verdade. Assim, como os gregos entendiam que a verdade não poderia ser entendida a não ser pela mentira, por isso a mitologia e o teatro, aqueles que protestaram não precisavam dizer uma palavra, apenas era preciso estar lá com aquela máscara naquele local.

Máscara passou a esconder o rosto, mas, ao esconder revelou um pacto silencioso com a democracia. Não era preciso ser dito com a verdade, apenas precisava ser dito. É na mentira da arte que reside a salvação.

26 de jun. de 2010

Liberdade



A escolha das possibilidades em X-1999 está na aceitação do destino, aqueles que aceitam as profecias as realizam. Ou seja, o destino é uma entre tantas possibilidades e este se realiza por que os predestinados aceitaram o seu destino. Alguns aceitam esse destino por convicção, outros por alienação.

A história se desenvolve na escolha entre as possibilidades e na construção de novas possibilidades, as escolhes é o que torna os seres humanos tão especiais. Kamui se torna a principal força desta história quando ele se torna aquele que escolhe, mas, ainda sim este era seu destino: Escolher.

O destino de Kamui é a maldição dos homens, sempre obrigados a escolher. A liberdade é capacidade de escolher entre as possibilidades, seria mais fácil viver sem tais escolhas. Viver sem as escolhas é negar a nossa própria humanidade. Estaremos sempre condenado a liberdade.

23 de jun. de 2010

Cartografia da Dor



Existem muitas cartografias possíveis, algumas são buscadas com ardor outras são evitadas com esforço máximo. A cartografia da dor é evitada ao longo de nossa travessia, porém, no ritmo em que vivemos cada vez mais navegamos neste espaço. O lugar-tristeza é ponto comum para aqueles que vivem neste inferno que é os Outros.

Em X-1999, o mundo está em pleno Armageddon os 7 Dragões do Céu lutam para manter a vida humana enquanto os 7 Dragões da Terra lutam para destruir a raça humana e salvar o planeta de sua destruição pela mão dos homens. O jovem Kamui é o messias para ambos os lados uma vez que ele é o único ser capaz de escolher o próprio destino, enquanto os Dragões estiveram predestinados a lutar pelo lado que se encontram. O lado que Kamui escolher será o vencedor.

A cartografia da dor é representada em X-1999 na perca do Outro, ou seja, na perca do próprio inferno. Cada combate entre os Dragões gera um novo ponto nesta cartografia, cada baixa nesta guerra constrói os pontos deste mapa. A morte do Outro é o nosso Armageddon e a coisificação é nossa batalha. A Humanidade cada dia humanifica coisas e coisifica homens, estes dois pontos são os nossos Dragões que lutam em direção do nosso fim. Pois, a morte do outro é a morte do homem, uma vez que o que humanifica os macacos que deram certo é o Outro.

X-1999 o Outro é bem mais precioso, é linha que marca toda a cartografia. Que a morte transforme em uma cartografia de dor.

18 de jun. de 2010

Subversão. Ato Sem Fim





Batman the Dark Kingnight, Watchman, Guerra Civil… Diante do crepúsculo, do próprio apocalipse, disseram sim e saíram vitoriosos, sobreviveram. Mas, é diante do fim de tudo que Evangelion se destaca, Shinji diz não, mesmo que tudo acabe. É na subversão do desejo de sobrevivência que as veredas do herói se mostram, Shinji não vai salvar ninguém e é por isso que ele diz Não, por isso que ele se difere dos demais heróis.

Subvertendo até mesmo a sexualidade, uma vez que o anjo que se apaixona por Shinji tem forma masculina. A conquista do amor em Evangelion é a pura subversão, uma vez visto que a obra é elaborada e desenvolvida na tradicional sociedade japonesa.

Subverter a ordem é caminho do herói, é a vereda que mais interessa. O herói deve salvar, mas, é a própria ordem que ameaça. É nesse mundo que é preciso lutar, não para salva-lo, mas, para mudá-lo. Sem procurar as armadilhas da felicidade que sempre se mostram fáceis, as escolhas parecem obvias, mas, não são.

A escolha final de Shinji é a escolha da total felicidade através da deformação total da forma humana, mas, a sedução da felicidade não é suficiente para convencer o nosso herói, uma vez que uma vida sem seus elementos como dor e tristeza.

A salvação só pode residir na vida total, com amores e ódios, alegrias e tristezas. Menos que isso é melhor o fim de tudo, por isso, Shinji diz Não.

12 de jun. de 2010

A conquista do Fogo. Ato III



A travessia do herói em Evangelion é surpreendente, as escolhas, as veredas, os recuos... É na travessia que reside à beleza desta história, pois, a beleza é a transformação e em Evangelion “Viver é estar em constante transformação” e ainda mais nós somos responsáveis de escolher os caminhos das mudanças, apenas não podemos evitá-los.

Nem mesmos os anjos estão livres da maldição da liberdade, nada escapa as forças da escolha, pois, a liberdade aqui entendida é sartreana. Ou seja, a liberdade é capacidade de fazer com o que os outros fazem conosco.

E mesmo na batalha final da sobrevivência de duas espécies: Os anjos e Os Homens; a possibilidade de escolha não é negada a ninguém. O ultimo anjo a oferecer combate já estava entre os homens e convivia com o nosso herói, e através da convivência o coração do anjo fora conquistado.

O ultimo anjo escolhera forma de homem e diante do fim do mundo ele disse: Não. A forma passa a ser tão importante quanto o conteúdo, pois, ao final percebemos que os seres humanos e os anjos sempre foram mais iguais do que percebemos.

O ultimo anjo e a ultima batalha foram travadas no coração, a escolha do Não condenou os anjos e salvou a humanidade, mas, nunca fora o objetivo deste anjo salvar a humanidade ao se abster da existência. Ele apenas desejava salvar o Herói, a humanidade que ao começo desta travessia sempre fora salva pelo individualismo dos pilotos dos monstros, teve sua salvação dos anjos através do coração de um anjo.

A conquista do amor do inimigo é o milagre total humano, pois, apenas o anjo em forma humana fora capaz de ser-para-si-para-o-outro, tal como um homem. Ao abandonar a solidão angelical ele entendeu que apesar do inferno ser Os outros é preciso que algumas pessoas sejam preservadas juntas ao coração, pois, se o inferno realmente são Os outros o Paraíso solitário dos anjos é um lugar pior que este inferno.

2 de jun. de 2010

A Última Tentação. Ato II



Na travessia de Shinji ele é absorvido pelo monstro e quando monstro e homem coabitam a mesma alma a sedução da felicidade se faz como a única possibilidade construída. Não restando escolha, lá neste onírico a felicidade plena é a ultima tentação do herói.

Sua mãe/monstro lhe oferece a felicidade, um caminho sem dor, onde ele seria o centro do universo, mas, não poderia jamais lhe oferecer a vida. Pois, tudo que ele viveria seria apenas cópia incompleta. Não existe vida em que um sentimento seja o único, é preciso viver com tudo. Angustia, dor, decepção... Sentimento que procuramos evitar são inevitáveis, faz parte da travessia. E diante da tentação de aceitar este simulacro de vida que a negação de Shinji se torna épica.

A tentação se faz vil ao colocar Shinji alheio a travessia, simulando um fim para a mesma. Mas, a tentação é grandiosa, tal qual Ulisses preso a mastro escutando o canto da sereia, e preciso lutar contra e é nesta batalha que se faz Shinji se faz diferente.

Ao não aceitar a tentação Shinji se fez herói, escolhendo o caminho mais tortuoso ele encontrou o caminho da travessia.

31 de mai. de 2010

A travessia do Herói. Ato I



Um garoto abandonado pelo pai, órfão de mãe, vilipendiado pelos avôs, paria na escola. Um herói. Shinji Ikari torna-se herói, não por querer ser, mas, por caminhos impostos pela tragédia e aceitos por ele. Não é pela glória da vitória ou pela necessidade de ser messias, ele se faz herói na apatia da obediência. Não é o poder que o faz herói, é falta de poder diante da figura paterna.

Shinji é Édipo, é Hamlet, é Zeus. É o filho que precisa matar o pai pra construir a sua travessia e poder possuir a mãe que no caso é o seu monstro[1] (EVA 01) [2], tornando-se assim a figura de poder. Este herói perpassa a história do heroísmo mítico, o mesmo herói de mil faces que povoa as nossas narrativas.

Ao aceitar pilotar a EVA 01, Shinji o faz sem treinamentos, sem racionalidade, dotado apenas da pulsão de morte. Mas, é ai que o robô se mostra monstro. É a sua mãe que de certa forma está embaixo das couraças, é no combate que ela desperta quando vê que seu filho está para morrer. O monstro entra em estado de fúria pela primeira vez e o combate lava de sangue as ruas de Tókio 3[3].

Shinji é complexo de Édipo e de Castração levados ao extremo. Mal resolvido, cheio de traumas, mas, a vida ainda lhe põe o peso do messias nas costas.


[1] Eu não consigo chamar os EVA’s de robôs.

[2] Ao decorrer da história descobrimos que ele consegue pilotar o monstro por ele ter absorvido a sua mãe, cientista que ajudou no desenvolvimento do mesmo.

[3] Cidade fictícia onde se desenrola a trama.

Estrada



Diante do fim do mundo eles lutaram. Não aqueles que mais amavam o mundo, mas, os deprimidos, os traumatizados, os próprios trágicos. Evangelion retrata a batalha do fim do mundo desta forma. Nossos heróis são crianças deprimidas, que controlam monstros e combatem anjos. A luta não é bonita, os atos não são heróicos, a salvação é buscada, não com fé, mas, com tédio e banalidade.

Os monstros são a esperança, os anjos são inimigos. O cristianismo cria as imagens do terror, são cruzes, anjos e evangelhos apócrifos que produzem as imagens do fim do mundo. Seele e Nerv (Alma e Corpo)[1] são a resistência humana contra os anjos.

Mas, é na travessia que tudo se ressignifica. Shinji Ikari, a personagem principal, encontra na própria luta motivos para lutar. Apenas quando ele entende que viver é está em constantes transformações. Cada caminho não aponta para uma chegada, mas, para novos caminhos.

É a travessia que é a própria salvação, onde até mesmo os anjos se rendem ao desejo humano. Onde cada sorriso convive com cada lagrima, pois, assim não existe o medo do fim da estrada, pois, esta não tem fim.

Evangelion se faz ser dita como a história sobre a estrada da felicidade, mas, é preciso pensar que ela é apenas a estrada. Por isso que o seu final é envolto em tanta celeuma. A maioria das pessoas esperam o fim da estrada e esquecem que o importante não é começo nem o fim, mas, o que interessa é a própria travessia.


[1] Tradução do Alemão

20 de mai. de 2010

A Construção da possibilidade


Destino passeia por um jardim de possibilidades, onde os tempos coexistem e o presente é síntese dos três tempos. O que foi, o que é, o que será e até mesmo o que não foi, o que não é e o que não será habitam o jardim do Destino.

Ele passeia sem olhos, acorrentado ao seu livro ou seu livro acorrentado a ele. No livro está escrita a História, as possibilidades escolhidas. As páginas demoram a ser viradas. As possibilidades são infinitas, mas, aquelas que foram escolhidas constroem a História.

Ele é o irmão mais velho, o primeiro. Estava lá para virar a primeira página e estará lá para fechar o livro, antes que Morte apague as luzes.

Ele não enxerga quais escolhas serão feitas, apenas as conseqüências das escolhas. Ele não olha para História de maneira fixa e acabada. A História é a construção de possibilidades. Não lamenta os rumos tomados, não interfere na construção. Seu livro sempre está aberto no meio, inícios e fins não despertam a curiosidade do Destino. Destino se interessa pela travessia.

19 de mai. de 2010

O Coração da Estrelas



Destruição reside no coração das estrelas, isto não e uma metáfora. Explosões de super-novas, explosões no sol. É a constante destruição que permite a existência da vida. Transmutação só existe por conta de Destruição, ele impede a estática do mundo. Não existe inércia em seu coração.

Ele não precisa se impor as criaturas como Desejo, não precisa pescar homens como Desespero, não espera visitas como Sonho, não tem obrigações com a Morte, não precisa observar nada como Destino. Então Destruição se torna o melhor irmão, o melhor amigo, aquele que sempre queremos próximo.

Mas, ele Destruição resolver se recriar, para isso abandonou o coração das estrelas. Seguiu novos rumos, se permitiu. Agora buscar a arte, entende que tudo é travessia.Não importa quais são as causa e quais serão as conseqüência, tudo é Destruição, tudo é criação.

Os Perpétuos mudam, mas, apenas Destruição escolheu mudar, ou seja, destruir o seu eu, para se criar nos Outros. E é na travessia que isto é possível, por isso a escolha da estrada. Ele vive sem rumo, longe dos irmãos. Entendendo que o caminhar produz o caminho.

Inércia



Desespero, pele cinza, enrugada, cabelos sujos, olheiras, caninos a mostra, nudez, um corpo baixo e gordo, ratos, seios caídos, barriga enorme. Um anel com anzol que é arrastado pelo corpo, sangue. Cicatrizes. Dor. Voz rouca e arrastada. Desespero.

O anzol que carrega no dedo busca o coração. Os seres são os alvos. Desespero é alheio aos dramas, as ações. Ela habita os desacontecimentos, o cotidiano, ela espreita a travessia. Ela é o Perpétua que está a tua espera. Não habita no surpreendente, não está nos acontecimentos.

Ela está além do bem e do mau, certo ou errado não existe. Para Desespero não existe solidão, uma vez visto que a solidão só existe diante do Outro. Desespero destrói a dimensão do outro para destruir a dimensão do eu. Eu sou o primeiro Outro, o fim disto é Desespero.

Desespero é a inércia do coração.

18 de mai. de 2010

Viver é difícil, perigoso e não é preciso



“Seu quebra-cabeça não tem limites de peça. Sua astúcia está na costura que segura o balanço do corpo. Arquiteta o exílio da possibilidade de escrever sobre a morte, de não experimentá-la. O direito ao delírio é humano, silencioso ou histérico” (Antonio Paulo Rezende, Ruídos do Efêmero)

Há muito tempo atrás Delírio era Deleite, a mais jovem dos Perpétuos quase nada conhecemos da Deleite. Apenas sabemos que a sua confusão a levou ao abraço de Destruição, encontro este que mudou Deleite para Delírio.

Ela é irmã caçula dos Perpétuos, a sua travessia é mudança constante. Sua aparência é apropriada ao seu modo-de-ser. Cabelos pintados e longos de um lado e careca do outro, olhos de cores diferentes, combinações de roupas estranhas e peixes e borboletas voam ao redor de sua cabeça. O seu falar é representado por balões contendo as cores do arco-íris e não tem uma tipografia de letras uniformes. Esta é a beleza do Delírio.

Tudo é mudança, não existe permanecias em Delírio. É preciso conviver com ela com cuidado, é preciso experimentar, mergulhar no seu coração. Porém, o perigo é grande. Eu não tenho medo de ir ao encontro de Delírio, o medo está em não querer voltar. E ai que reside uma das dificuldades de viver dita por Guimarães Rosa, ou o não preciso de Fernando Pessoa.

Por isso que Delírio é um direito e não um dever.

Desejo



O/A Desejo de todos os Perpétuos é o que mais é difícil se relacionar. O que desejamos muitas vezes não é a chave da construção da felicidade. Desejamos o Outro, mas, não a dimensão do que o Outro representa. Desejamos o Outro como coisa, são todos objetos que aprisionamos para construir caminhos de seguranças que nos afastam da construção da possibilidade.

Desejo é visualmente instigante, pois, Desejo é os dois sexos ao mesmo tempo. Desejo é irmão/irmã dos Perpétuos. Sua melhor representação seria entre Desespero e Delírio. Mas, sua relação mais intensa é com Sonho. Esta relação é um retrato pós-moderno do desejo e do sonho, que em um passado distante eram os irmãos mais próximos entre os Perpétuos.

O sonho é filho de anseios, amores, ódios infernizados; cada dia mais o desejo é imposto pelo mercado, por nossas relações coisificadas. A/O Desejo foi mudada (o) na construção dos valores modernos. A obrigação que nós mesmos criamos para nós mesmo é de realizar o desejo.

Desejávamos por ser incompletos, agora desejamos para se completar. Mas, nunca precisamos ser completos e é neste mundo que o/a Desejo se torna perigosa (o).

Este/ Esta desejo não pode ser próximo ao Sonho, mas, é próximo cada dia mais de Desespero.

Travessias





“Não se vive nem pouco nem muito só vive o tempo de uma vida”. A Morte é a criatura que mais entende da vida. Sonho precisa de seus conselhos por isso e por ser sua irmã mais velha.

Representada como uma garota muito bonita, com calma e simpatia é guia na travessia. Não importa o que você fez em vida ou para onde vai na morte, a Morte se preocupa apenas com a travessia. E a Morte é companhia ideal para a travessia.

Destino entrega a chave, Morte desliga as luzes e tranca a porta é imagem da travessia que nem mesmo os Perpétuos sabem aonde vão levar, pois, o caminhar é que faz caminho.

Viver e morrer é condição de todos que habitam o universo, mesmo os Perpétuos no fim se depararam com a sua irmã cumprindo seus afazeres. Porém, eles não podem morrer por completo, pois, cada Perpétuo é um conceito que é imortal. A imortalidade dos conceitos não implica em uma permanência contínua, os conceitos sempre estão sujeitos a transformações. Os conceitos estão vivos e viver é estar em constante transformação. Nem mesmo a morte não escapa disto.