19 de jul. de 2010

Dentro do Capuz

"Mas você e eu, nós já passamos por isso,
E este não é nosso destino.
Então, vamos parar de falar hipocritamente,
Está ficando tarde." (Bob Dylan)


Eles vigiam as ruas, estão à espreita para salvar ninguém sabe quem de qualquer perigo que não se sabe qual... De modo geral os heróis tal como se apresentam hoje não têm planos ou projetos, isso é o que os distanciam da humanidade. Vivemos traçando projetos que nunca se completarão, onde a vida deveria ser o maior dos pesos.

Os heróis saem de suas casas indo atrás de alguém para salvar, O Outro para o herói é apenas a vítima. Não existem projetos sem O Outro, uma vez que a dimensão dos que nos rodeiam deveria ser o principal. Mas, você poderia dizer e o altruísmo dos heróis? Ele não existe.

Ao balançar suas redes pelas ruas o Homem-Aranha deve ver mendigos, crianças de rua... E o que ele faz? Continua atrás de vítimas para serem salvas. O que importa para os heróis é vítima e não o outro.

É por isso que a máscara é necessária, pois, o primeiro Outro é o Eu. O Eu então está sufocado atrás da máscara, e esta troca é necessária para conseguir coisificar um rosto. A criação da máscara do herói é uma coisificação que nunca poderia ser o rosto do homem por de baixo do capuz.

16 de jul. de 2010

Vítimas e Heróis




Já não podemos aceitar heróis que são vítimas, mesmo quando as tragédias que os formaram estas não podem vitimá-los. A tragédia é vida e nos, seres humanos, somos trágicos e de fato parece ser um destino manifesto, mesmo quando somos cômicos.

Mas, o mundo ainda é cristão... E este mundo cristão é dado escolher a vítima como herói, é o crucificado, aquele que sofre, o que sangra é que se torna herói. Por isso, que os heróis são vitimados em suas genesis, filhos da dor, Batman, Super-Homem, Homem-Aranha... São os que sofrem, por isso são heróis.

Mas, a esperança se reacende em suas roupagens novas, em The Dark Kingnight a morte dos pais de Batman não é si quer citada, não passa de um passado que já passou. Ainda é preciso fazer mais, é preciso vencer a vítima, mas, vários heróis já não são mais vitimas, Homem de Ferro, Capitão América... A existência desses heróis que não são vítimas é a esperança.

O cristianismo já teve dias melhores...

7 de jul. de 2010

Vingança da Arte




O cinema é obra de arte na sua reprodutividade técnica, uma arte que não existe o original no qual a copia do filme tem o mesmo valor que filme em si. Os quadros representam o contrario, um Caravaggio original tem valor inestimado enquanto a sua copia mais fiel nada vale.

Existe uma razão lógica para isso, os custos de fazer um filme não permitem que exista apenas uma cópia da obra. Seria inviável produzir cinema para poucas exibições e poucas cópias. O cinema mata o caráter físico da obra, apenas o conceito pode perpetuar.

Esta dessacralização da arte no cinema é o que permite a criação de uma indústria cinematográfica, que encontrou espaço no EUA para se desenvolver ao ponto de produzir o filme mais caro da história[1] em plena crise econômica mundial.

Sendo uma indústria capitalista o lucro é objetivo principal e esta é a morte do ideal de arte. Porém, existem espaço de navegação entre poderes capitalistas e na construção de um filme que atenda minimamente o mercado e arte que se pode encontrar esperança.

V de vingança é esta obra de arte e de mercado onde seus ecos se encontram no protesto de Hong Kong, onde V personificou o desejo da democracia. Se existir um Sistema ele é instituinte do filme V de Vingança, mas, não é instituído pelo filme. O Sistema falha em V de vingança e é ai que reside a vingança da arte.


[1] Avatar de James Cameron

2 de jul. de 2010

Estetização da Revolta


O povo por vezes precisa de uma faísca que o impulsione para o movimento, faísca essa que nem mesmo precisa ser real, nem mesmo precisa ser uma ação ou uma pessoa, os movimentos precisam de idéias. Mas, a arte pode estetizar idéias, pode criar um rosto para conceitos.

No dia 1 de Julho de 2010, cerca de 50 mil chineses saíram para protesta contra o governo nas ruas de Hong Kong. A grande causa do protesto era a falta de democracia. Dentre os que protestavam um grupo se encontrava com a máscara que personificava V no filme V de Vingança.

Para esse grupo a força da revolta encontrou sua estetização na máscara de V. O que deveria ser mais um filme bobo de Hollywood feito para faturar uma porrada de dólares, virou para aqueles que protestaram com o rosto de V no lugar do seu próprio um símbolo de sua idéia, a personificação de suas vontades.

Eles não eram V, eles não precisavam ser, V é usado para comunicar suas revoltas. A estetização da revolta é o que é o rosto de V neste protesto, a máscara é uma mentira que explica a verdade. Assim, como os gregos entendiam que a verdade não poderia ser entendida a não ser pela mentira, por isso a mitologia e o teatro, aqueles que protestaram não precisavam dizer uma palavra, apenas era preciso estar lá com aquela máscara naquele local.

Máscara passou a esconder o rosto, mas, ao esconder revelou um pacto silencioso com a democracia. Não era preciso ser dito com a verdade, apenas precisava ser dito. É na mentira da arte que reside a salvação.