14 de dez. de 2012

Tédio




No mundo dos lugares comuns, o ócio é o pai da arte e da filosofia. Esse mundo tem suas razões, mas ainda acredito que ócio enquanto tempo de reflexão ainda é pouco para explicar a origem da arte e da filosofia.  Talvez o tédio, o mesmo que fez criar toda uma maquinaria de entretenimento, que me parece ser o ponto de partida das criações mais refinadas dos homens.
            O tédio numa madrugada sem sono, o quarto iluminado pela tela do computador, o prompt que pisca no simulacro digital de uma folha em branco...  Pode levar a qualquer um para um cidade sitiada na qual não se pode mais esperar a chegada de cavaleiros rompendo o cerco. Neste cenário, só há uma chance de sobrevivência, romper o cerco.
            Assim sendo, o olho não está mais no prompt. É nas teclas mal iluminadas que o olhar passeia, é um alfabeto sem sentido entre Q e o M está todas as chances da salvação nesta madrugada. Escreve, apaga, fecha o programa, reabre... Mesmo que nada tenha sido feito as ultimas meia hora foram as mais rápidas do todas as insoniferas horas que até tão teimaram em não passar. Mas, escrevendo, apagando, fechando e reabrindo o programa um texto satisfatoriamente esquisito se forma.
            Esse texto não mais filho do idílico ócio, mas filho da outra, do tédio e tédio com um T bem grande. Não sei do ócio, mas alguns outros são filhos do tédio. Pois o ócio seria apenas o tempo em que eu posso me dedicar a algo, enquanto o tédio me impõe ao movimento. Cercando os muros de uma cidade que se amedronta.
            Mas, o cerco é rompido quando as portas das cidades são abertas e o exercito invasor entra triunfante logo percebendo que já não ninguém ali.

11 de out. de 2012

Relampejar da História


            O conceito de memória involuntária presente nas obras de Proust parece ser uma ferramenta para compreender Across The Universe.  Neste filme Julie Taymor, a diretora, faz um passeio pelas temporalidades e historicidades da obra dos Beatles.
            Ao longo de 34 musicas somos levados as décadas de 1960 e 1970, acontecimentos político, sociais e culturas da história.  Esses acontecimentos são extremamente conhecidos, não apontam outro ângulo que nos enquanto estudantes de história não conhecemos. Mas, involuntariamente e mesmo sem termos memórias sobre estes acontecimentos, as músicas fazem saltar aos nossos olhos vivências e memórias que a racionalidade não daria conta sem este estimulo musical.
            Para Proust a memória involuntária é fruto não do que queremos lembrar. Ela é acionada através dos estímulos dos sentidos, o cheiro, o toque, o som... O chá e o bolo trazem memórias aos personagem de Proust, que não as teriam se racionalmente tivessem tentado lembrá-las. Assim, como no filme que emite efeitos através dos estímulos musicais. Assim como as próprias imagens escolhidas no filme, a dança do treinamento do exercito ao som de I Want You (She’s So Heavy) é o que poderia ser treinamento comum, mas é transformado e por conta disso relampeja na mente do telespectador.



            Esse relampejar é o momento importante para historicidade do filme, nisso ele desafia-nos a tentar captar uma nova imagem para o passado, tal como Walter Benjamin conclama ao fazer do historiador nas Teses Sobre o Conceito de História. Na perspectiva do não vivido, não se trata mais de conhecer o movimento hippie, a contra-cultura ou a Guerra do Vietnan tal como eles foram, tal como eles aconteceram, mas é preciso articular um estudo histórico de como eles existem no presente. Ou mais, de pensar como articular esses passados no presente de tal forma que eles ao invés de justificar o mundo ao nosso redor possam criar um mundo. Estabelecer no passado os pontos de fugas para o presente fugir das prisões do dispositivo capitalista.
            E isso é importante ao filme, nesta produção vemos a Guerra do Vietan, mas sem ser posta com causa ou conseqüência de nada, no filme nem ao menos temos o direito de saber quem a venceu, sabemos apenas que Max volta e que ele já não é mais quem era antes. Isso ao som de Strawbarry Fields Forever, que é uma musica falando da infância de Lennon, mas que também era o nome dado ao terreno do exercito da salvação do qual era vizinho em sua infância. Podemos pensar a guerra como a criação também, como o começo de uma nova temporalidade tal como algum crime fundador das mitologias, Prometeus que rouba o fogo, Caim que mata Abel fundam a civilização em seus atos criminosos.


            Mas, não estando em concordância deste mundo a diretora o faz ser estranho ao telespectador, por isso ele relampeja. E esse relampejar e luz e perigo ao mesmo tempo, brilha apenas por conta da força destruidora que o passado pode ter sobre o presente. 

5 de out. de 2012

Medo cotidiano


           


              A luz do cogumelo nuclear ilumina o medo do fim do mundo. As ogivas nucleares apontadas para as potências inimigas, sendo que todos são inimigos e todos têm ogivas. O mundo pode acabar a qualquer momento. Guerra Fria.
            A experiência da guerra fria é a premissa sob a qual supostamente Wachtman encontra sentido, mecanismo no qual a leitura do filme é possível. Porém, é o medo que não precisa de um acontecimento especifico para se revelar que é a experiência que permite a leitura desse filme.
            O medo que nos é ensinado cotidianamente engendra práticas. O medo em sua microfísica cria nossos pequenos expedientes, nossas táticas e maneiras de estar no mundo. Temos medo de não ser achados por isso a necessidade constante de se está conectado, de ter sempre o celular por perto. Medo no transito. Medo de ir em alguns lugares. Temos medo.
            E é esse medo que permite que para uma geração que a Guerra Fria não passa de páginas de livros empoeirados de história, faça sentido. E em certa medida o final do filme não é sacrifício em nome da paz, mas o nosso tributo ao medo. Sacrificamos nossas liberdades, nossas individualidades em nome do medo. Seis mil mortos são nossos tributos ao medo.
            Não a racionalidade de saber sobre a Guerra Fria, mas o medo de ir a esquina que permite compreender a mensagem do filme. Entender o perigo do escuro das cenas, da chuva, da noite, da imensidão ártica no filme é onde a leitura se encontra com as nossas vivências. Por isso o medo não precisa ser explicado, ele é e a partir do que é podemos entender esse mundo a beira da falésia do fim do mundo. 


14 de mai. de 2012

Cotidiano


O cotidiano, tal como é visto hoje, é uma armadilha. Esconde o novo das vivências diárias e faz do fantástico seu oposto. Tentamos esconder nossas artimanhas para criarmos nossos pequenos golpes, nossas pequenas aventuras, nossos pequenos milagres...
Pensar o cotidiano, me leva a três fotos:

O beijo do Hotel Ville

Enfermeira e Marinheiro:


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Protesto em Vancouver:

Três fotos, três beijo. As duas primeiras fotos são beijos que se tornaram celebres, podem parecer instantâneos de beijos espontâneos, mas são fotos que foram armadas. Fotos pensadas pela cabeça de grandes fotógrafos, seus resultados são fantásticos emitem efeito de verdades.
A terceira foto, um beijo durante confronto entre policiais e protestantes pelas ruas de Vancouver. Um flagrante da beleza do cotidiano. Das três fotos aqui exposta é única que não foi armada. E então, podemos pensar como o cotidiano não é tão evidente como esperamos e seus registros são menos ainda.
Aquilo que acontece de mais extraordinário também são acontecimentos do cotidiano. Não existem limites ao nosso fazer diário. Nossos pequenos milagres são belezas que a trama do cotidiano tenta esconder em seus desenlaces.
Por isso temos de está atentos a tudo, afinal o cotidiano tem seus instantes surpreendentes que não anulam ao que se repete, mas se somam. As vivencias são atos de arte, são saltos mortais que são capazes de tirar o fôlego de quem a observas.

26 de jan. de 2012

Palavras e Desejos




Os gênios nos oferecem desejos. São maravilhas e aventuras, charme e espertezas, potes de ouros e corações valentes. Só basta que o desejante verbalize os seus desejos. Poderíamos, então, desejar um mundo novo. Desses que só existem no sonhar dos melhores homens. Os gênios só precisam escutar o teu desejo.
Mas, quantas e quantas vezes nossos corações se enchem de medo por conta dos desejos. O medo nos impele para longe dos gênios. Temos tanto medo de pronunciar as palavras que criariam um mundo novo. De certa forma desejamos revoluções e quem menos que isso deseja não deveria ter direito ao desejar. Verbalizar as palavras da revolução é difícil.
A dificuldade está nas nossas amarras ao mundo que a revolução destruirá. E são amarras boas, nos alegram, criam sentidos para nossas vidas. Mas, nos amarram. Não impedem, mas nos amarram. Nem mesmo pedem que continuamos a viver nesse mundo. A revolução não será indolor.
Não é de se estranhar que nos reinos das fábulas o que comumente chamamos de gênios são tidos como demônios. Não pela negação do desejo, mas pela realização tal qual o que se deseja. São seres amorais. Feitos para conceder desejos a qualquer custo.
Mas, nem sempre é fácil verbalizar os desejos e os gênios precisam de verbos, precisam se deliciar com “Eu quero...”. E só poderemos pedir mundos novos. E ao pedir isso os nossos antigos mundo seriam no mínimo abalados.
A revolução só existe com dor. Assim como a mãe que sofre para dar a luz ao um filho. Assim, proferir as palavras do desejo podem trazer um mundo desejado e causar uma dor indesejada. E estamos sempre nessa corda bamba. É um mundo incerto, onde o que é sólido desmancha no ar.
Onde desejos e sonhos entram clandestinos em nossos mundos. Corroem tudo que até então era certo e estava bem, te dão medos e alegrias sem te pedir nada em troca.



8 de jan. de 2012

Caminho de Vilania




Pode ser que o mundo seja este local vasto, que vá além dos meus olhos. Eu até creio que exista lugares que fogem do alcance dos meus olhos, mesmo que seja difícil de acreditar que exista um mundo sem meu eu para contemplá-lo. Talvez, realmente eu não tenha a centralidade que espero ter no mundo.
E eu acredito do fundo das minhas bobas convicções que tudo é absurdo, que não existe um sentido que impere nossos caminhos. Chego cogitar que foi ao acaso que te vi pela primeira vez, que talvez eu pudesse passar toda essa vida sem ter te encontrado. E por fim penso que tudo isso pode ser verdade, as vezes até acredito nisso tudo.
Mas, ai eu te vejo...
E ai destas convicções! São tolas, fruto de livros de filosofias, de história que não foram escritos sobre nosso encontro. Estas convicções caem e quando você sorrir para mim, só para mim, eu sei que todos esses talvez são bobos. E sei que nosso encontro faz todo sentido. Era para ser tal como foi e não poderia ser de outra formar e que o destino pôs nossos caminhos juntos.
Assim, eu sei. E sei que eu estou pensando tudo errado por sua causa e então rindo de mim mesmo percebo-me feliz. Pagar o caminho errado por vezes é muito mais divertido, uma lógica de coisas erradas deveria ser experimentada volta e meia.
No fim das contas se teus erros te dão sorrisos, qual seria a utilidade de teus acertos? O Caminho do vilão, o caminho do erro é invejável. E é por essa inveja que dizemos que este caminho é um erro, que é um caminho de vilania. Conseguir pensar para além do bem ou do mal é conseguir pensar levando em conta as risadas que errar pode nos proporcionar.   



5 de jan. de 2012

Sinais e Ruídos




Então, as palavras faltaram ao encontro. Sentimentos indizíveis e sinais ruidosos. Talvez, as cartografias sejam as mesmas e eu olhando com novos olhares. Sinais e ruídos.
Dever ser o fim do mundo, um fim do mundo destes que já vimos, revimos e veremos. O mundo sempre acaba para alguém. Neil Gaiman e Dave Macken em Sinal e Ruído nos mostram que o fim do mundo já aconteceu algumas vezes e nesta obra eles contam dois finais do mundo. O primeiro em filme que se passa nos últimos minutos do ano 999 d.C. filmado inteiramente na cabeça de um homem preste a morrer. O homem preste a morrer é o nosso segundo fim do mundo.
São sinais ruidosos e ruídos que emitem sinais. O mundo sempre acaba e sempre continuamos. Um passo após o outro e continuamos. Resistirmos à falta das palavras, aos sentimentos indizíveis, aos sinais e os ruídos. E tudo isso é fim do mundo. Fim do mundo todos os dias da semana.
O mundo vai acabar, mas não precisa cai no clichê de viver sua vida como se não houvesse amanhã. Eu prefiro o caminho inverso, vivendo na direção do fim do mundo e fazendo o que faz sentido para está.
Quem venham os sinais e os ruídos...