11 de out. de 2012

Relampejar da História


            O conceito de memória involuntária presente nas obras de Proust parece ser uma ferramenta para compreender Across The Universe.  Neste filme Julie Taymor, a diretora, faz um passeio pelas temporalidades e historicidades da obra dos Beatles.
            Ao longo de 34 musicas somos levados as décadas de 1960 e 1970, acontecimentos político, sociais e culturas da história.  Esses acontecimentos são extremamente conhecidos, não apontam outro ângulo que nos enquanto estudantes de história não conhecemos. Mas, involuntariamente e mesmo sem termos memórias sobre estes acontecimentos, as músicas fazem saltar aos nossos olhos vivências e memórias que a racionalidade não daria conta sem este estimulo musical.
            Para Proust a memória involuntária é fruto não do que queremos lembrar. Ela é acionada através dos estímulos dos sentidos, o cheiro, o toque, o som... O chá e o bolo trazem memórias aos personagem de Proust, que não as teriam se racionalmente tivessem tentado lembrá-las. Assim, como no filme que emite efeitos através dos estímulos musicais. Assim como as próprias imagens escolhidas no filme, a dança do treinamento do exercito ao som de I Want You (She’s So Heavy) é o que poderia ser treinamento comum, mas é transformado e por conta disso relampeja na mente do telespectador.



            Esse relampejar é o momento importante para historicidade do filme, nisso ele desafia-nos a tentar captar uma nova imagem para o passado, tal como Walter Benjamin conclama ao fazer do historiador nas Teses Sobre o Conceito de História. Na perspectiva do não vivido, não se trata mais de conhecer o movimento hippie, a contra-cultura ou a Guerra do Vietnan tal como eles foram, tal como eles aconteceram, mas é preciso articular um estudo histórico de como eles existem no presente. Ou mais, de pensar como articular esses passados no presente de tal forma que eles ao invés de justificar o mundo ao nosso redor possam criar um mundo. Estabelecer no passado os pontos de fugas para o presente fugir das prisões do dispositivo capitalista.
            E isso é importante ao filme, nesta produção vemos a Guerra do Vietan, mas sem ser posta com causa ou conseqüência de nada, no filme nem ao menos temos o direito de saber quem a venceu, sabemos apenas que Max volta e que ele já não é mais quem era antes. Isso ao som de Strawbarry Fields Forever, que é uma musica falando da infância de Lennon, mas que também era o nome dado ao terreno do exercito da salvação do qual era vizinho em sua infância. Podemos pensar a guerra como a criação também, como o começo de uma nova temporalidade tal como algum crime fundador das mitologias, Prometeus que rouba o fogo, Caim que mata Abel fundam a civilização em seus atos criminosos.


            Mas, não estando em concordância deste mundo a diretora o faz ser estranho ao telespectador, por isso ele relampeja. E esse relampejar e luz e perigo ao mesmo tempo, brilha apenas por conta da força destruidora que o passado pode ter sobre o presente. 

5 de out. de 2012

Medo cotidiano


           


              A luz do cogumelo nuclear ilumina o medo do fim do mundo. As ogivas nucleares apontadas para as potências inimigas, sendo que todos são inimigos e todos têm ogivas. O mundo pode acabar a qualquer momento. Guerra Fria.
            A experiência da guerra fria é a premissa sob a qual supostamente Wachtman encontra sentido, mecanismo no qual a leitura do filme é possível. Porém, é o medo que não precisa de um acontecimento especifico para se revelar que é a experiência que permite a leitura desse filme.
            O medo que nos é ensinado cotidianamente engendra práticas. O medo em sua microfísica cria nossos pequenos expedientes, nossas táticas e maneiras de estar no mundo. Temos medo de não ser achados por isso a necessidade constante de se está conectado, de ter sempre o celular por perto. Medo no transito. Medo de ir em alguns lugares. Temos medo.
            E é esse medo que permite que para uma geração que a Guerra Fria não passa de páginas de livros empoeirados de história, faça sentido. E em certa medida o final do filme não é sacrifício em nome da paz, mas o nosso tributo ao medo. Sacrificamos nossas liberdades, nossas individualidades em nome do medo. Seis mil mortos são nossos tributos ao medo.
            Não a racionalidade de saber sobre a Guerra Fria, mas o medo de ir a esquina que permite compreender a mensagem do filme. Entender o perigo do escuro das cenas, da chuva, da noite, da imensidão ártica no filme é onde a leitura se encontra com as nossas vivências. Por isso o medo não precisa ser explicado, ele é e a partir do que é podemos entender esse mundo a beira da falésia do fim do mundo.