14 de dez. de 2012

Tédio




No mundo dos lugares comuns, o ócio é o pai da arte e da filosofia. Esse mundo tem suas razões, mas ainda acredito que ócio enquanto tempo de reflexão ainda é pouco para explicar a origem da arte e da filosofia.  Talvez o tédio, o mesmo que fez criar toda uma maquinaria de entretenimento, que me parece ser o ponto de partida das criações mais refinadas dos homens.
            O tédio numa madrugada sem sono, o quarto iluminado pela tela do computador, o prompt que pisca no simulacro digital de uma folha em branco...  Pode levar a qualquer um para um cidade sitiada na qual não se pode mais esperar a chegada de cavaleiros rompendo o cerco. Neste cenário, só há uma chance de sobrevivência, romper o cerco.
            Assim sendo, o olho não está mais no prompt. É nas teclas mal iluminadas que o olhar passeia, é um alfabeto sem sentido entre Q e o M está todas as chances da salvação nesta madrugada. Escreve, apaga, fecha o programa, reabre... Mesmo que nada tenha sido feito as ultimas meia hora foram as mais rápidas do todas as insoniferas horas que até tão teimaram em não passar. Mas, escrevendo, apagando, fechando e reabrindo o programa um texto satisfatoriamente esquisito se forma.
            Esse texto não mais filho do idílico ócio, mas filho da outra, do tédio e tédio com um T bem grande. Não sei do ócio, mas alguns outros são filhos do tédio. Pois o ócio seria apenas o tempo em que eu posso me dedicar a algo, enquanto o tédio me impõe ao movimento. Cercando os muros de uma cidade que se amedronta.
            Mas, o cerco é rompido quando as portas das cidades são abertas e o exercito invasor entra triunfante logo percebendo que já não ninguém ali.