O conceito de memória involuntária
presente nas obras de Proust parece ser uma ferramenta para compreender Across The Universe. Neste filme Julie Taymor, a diretora, faz um
passeio pelas temporalidades e historicidades da obra dos Beatles.
Ao longo de 34 musicas somos levados
as décadas de 1960 e 1970, acontecimentos político, sociais e culturas da
história. Esses acontecimentos
são extremamente conhecidos, não apontam outro ângulo que nos enquanto
estudantes de história não conhecemos. Mas, involuntariamente e mesmo sem
termos memórias sobre estes acontecimentos, as músicas fazem saltar aos nossos
olhos vivências e memórias que a racionalidade não daria conta sem este
estimulo musical.
Para Proust a memória involuntária é
fruto não do que queremos lembrar. Ela é acionada através dos estímulos dos
sentidos, o cheiro, o toque, o som... O chá e o bolo trazem memórias aos
personagem de Proust, que não as teriam se racionalmente tivessem tentado
lembrá-las. Assim, como no filme que emite efeitos através dos estímulos
musicais. Assim como as próprias imagens escolhidas no filme, a dança do
treinamento do exercito ao som de I Want
You (She’s So Heavy) é o que poderia ser treinamento comum, mas é
transformado e por conta disso relampeja na mente do telespectador.
Esse relampejar é o momento
importante para historicidade do filme, nisso ele desafia-nos a tentar captar
uma nova imagem para o passado, tal como Walter Benjamin conclama ao fazer do
historiador nas Teses Sobre o Conceito de
História. Na perspectiva do não vivido, não se trata mais de conhecer o
movimento hippie, a contra-cultura ou a Guerra do Vietnan tal como eles foram,
tal como eles aconteceram, mas é preciso articular um estudo histórico de como
eles existem no presente. Ou mais, de pensar como articular esses passados no
presente de tal forma que eles ao invés de justificar o mundo ao nosso redor
possam criar um mundo. Estabelecer no passado os pontos de fugas para o
presente fugir das prisões do dispositivo capitalista.
E isso é importante ao filme, nesta
produção vemos a Guerra do Vietan, mas sem ser posta com causa ou conseqüência
de nada, no filme nem ao menos temos o direito de saber quem a venceu, sabemos
apenas que Max volta e que ele já não é mais quem era antes. Isso ao som de Strawbarry Fields Forever, que é uma
musica falando da infância de Lennon, mas que também era o nome dado ao terreno
do exercito da salvação do qual era vizinho em sua infância. Podemos pensar a
guerra como a criação também, como o começo de uma nova temporalidade tal como
algum crime fundador das mitologias, Prometeus que rouba o fogo, Caim que mata
Abel fundam a civilização em seus atos criminosos.
Mas, não estando em concordância
deste mundo a diretora o faz ser estranho ao telespectador, por isso ele
relampeja. E esse relampejar e luz e perigo ao mesmo tempo, brilha apenas por
conta da força destruidora que o passado pode ter sobre o presente.