2 de set. de 2011

Memórias negociadas



Muito comum nas histórias em quadrinhos o passado ser constantemente revisto, recontar a origens se tornou um lugar comum. Trair o que foi feito antes é de fundamental importância para que os heróis possam habitar o agora. Porém, é preciso que essas histórias que recontam as origens sejam ao mesmo tempo próxima e distante de suas originais. Super-Homem sempre precisará ser o alienígena, Batman precisa de sua tragédia familiar. Mas, ao recontar estas histórias é preciso trazer as características dos heróis para o presente.
Este é processo complexo, pois, é necessário que se negocie com a memória, com o silencio. Em Lanterna Verde: Origem Secreta, esta negociação é feita página a página. O caminho do herói percorrido pelo Lanterna nesta nova origem transformou a coragem em seu maior defeito e melhor qualidade ao mesmo tempo, pois o público hoje exige heróis esféricos, que apresentem defeitos. Porém, quando este foram criados eram perfeitos. E os leitores ainda os querem como heróis.
Esta questão mostra que mesmo sem dizer a lógica cartesiana não é capaz de nos explicar, nos traduzir. Queremos heróis perfeitos e que estes errem, que tenham problemas pessoais assim como nós, mas que ainda assim sejam heróis de feitos maravilhosos.
E para tanto é necessário um constante negociar com a memória, onde o silêncio e os ruídos fazem as mudanças não soarem dissonantes. Onde o novo que conta o que já velho, já é sabido, tenha sentido e emitam significados.
A História também, ensina que as lutas pela memória estão sempre presente no campo político. O partido no poder sempre vai querer tomar para as políticas de estado, assim trazendo para sua mão a condução da história. Ou na medida que os personagens políticos se transformam na sua trajetória, como ao fim da ditadura onde aqueles que foram derrotados voltam como vitoriosos na e pela memória. Neste caso, eles assumem como vitoriosos pois conseguiram negociar para si a imagem de defensor da democracia, mesmo que durante a ditadura estes lutassem para instalar uma outra (a do proletariado) mas, não a democracia de fato.
O passado não está morto, por conta deste constante negociar.



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