27 de mar. de 2010

Os tempos, eles estão mudando

Venha se reunir povo por onde quer que andem
E admitam que as águas que nos cerca se elevaram
Aceitando isto
Logo estaremos ensopados até os ossos
Se o tempo para você vale salvar
Então é melhor começar a nadar
Ou você afundará como uma pedra
Pois os tempos, eles estão mudando (Bob Dylan)

É verdade: os tempos, eles estão mudando. Assim começa a adaptação cinematográfica de Watchman. Colocando-nos a questão vale a pena à salvação a qualquer custo?

O cenário é os Estados Unidos dos anos da década de 1980, porém, a história tinha tomado outros rumos (por que o tempo, eles estão mudando). Os Estados Unidos não perderam a Guerra do Vietnã, Richard Nixon permanecera na presidência, a Guerra Fria não dá sinais de fraqueza e a hecatombe nuclear é cada dia mais eminente. O relógio do fim do mundo marca 23h55min.

Neste mundo ser herói é literalmente proibido pela lei. Os vigilantes foram proibidos de exercer seus atos de heroísmo. As crianças não lêem quadrinhos de heróis[1] preferem ler histórias de piratas[2].

Para completar a construção deste mundo as ruas são escuras e sujas, o tempo é chuvoso, a maior parte das cenas se passa a noite. Ao longo do filme as mídias são usadas para reafirmar que estamos na porta do fim do mundo.

Neste mundo os Watchmans são os filhos do meio da história. Não podem mais exercer sua função, tendo de passar a encarar o mundo como um observador, com exceção de Rorschach (que não respeita a lei de proibição de vigilantes) não existe mais heróis e a população se sente mais tranqüila assim.

Rorschach, o único herói, é paranóico, tem tendências políticas conservadoras, violento e se usa de qualquer meio para combater o crime, porém, é completamente incorruptível e implacável. Um herói pós-moderno.

Os demais tentam viver vidas mais normais, o Comediante e Dr. Manhatthan atuam para governo. O que implica a dizer que ninguém mais combate o crime. Pois, até mesmo o herói é um fora da lei.

Dr. Manhatthan neste mundo é um resultado acidental do projeto Manhatthan, que lhe concedeu poderes sobre a fissão nuclear, o controle sobre a matéria e uma visão de mundo baseada na teoria da relatividade, lhe conferindo poder de um deus e nenhum outro herói tem poderes. Porém, este poder de deus consumiu sua humanidade o fazendo cada vez mais distante dos demais.

A cada minuto do filme sabemos que o fim está próximo. Ao saber isso o mais bom-moço dos heróis Ozymandias resolve agir. Porém, não mais como um herói, mas, como a única forma possível de impedir o fim do mundo.

Não revelarei como, mas, o plano de Ozymandias é forjar um ataque as cinco principais metrópoles do mundo, fazendo a culpa recair nas costas do Dr. Manhattahn, que a esta altura da história já não estaria mais no planeta Terra, fazendo assim as potências se unirem contra um inimigo em comum, um Deus.

O plano é descoberto por Rorschach, Coruja, Spectral (que ao longo da trama reassumem suas identidades de heróis) e Dr. Manhattahn, mas, já era tarde demais, era impossível reverter o plano e quinze milhões de pessoas morrem, mas, o plano funciona, Capitalismo e Socialismo se unem e o mundo foi salvo. Porém, a que custo? A base de uma mentira e de um genocídio.

Ai reside o grande e ultimo impasse os personagens têm de escolher entre conta a verdade e colocar o mundo mais uma vez em cheque, ou, assumir a mentira e manter o mundo a salvo da luta entre as potências. Os fins justificam os meios?No filme a resposta é sim, mas, sem atribuir valor a isso.

Porém, a questão em si não mais a obra e sim o público que aceita a proposta de Ozymandias, mentira e genocídio, ou, o velho fantasma do fascismo que assombra minha mente e coração.

Deve haver algum jeito de sair daqui,
disse o cômico ao ladrão
lá tem muita confusão,
Eu não tenho nenhum alívio (Jimi Hendrix)



[1] Por questões praticas a versão de cinema não contem esta informação. A versão do diretor é ainda maior do que a versão que assistimos na telona.

[2] Os contos do cargueiro negro é uma animação que na versão do diretor seria apresentada ao longo do filme, uma espécie de metanarrativa.

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