2 de jul. de 2010

Estetização da Revolta


O povo por vezes precisa de uma faísca que o impulsione para o movimento, faísca essa que nem mesmo precisa ser real, nem mesmo precisa ser uma ação ou uma pessoa, os movimentos precisam de idéias. Mas, a arte pode estetizar idéias, pode criar um rosto para conceitos.

No dia 1 de Julho de 2010, cerca de 50 mil chineses saíram para protesta contra o governo nas ruas de Hong Kong. A grande causa do protesto era a falta de democracia. Dentre os que protestavam um grupo se encontrava com a máscara que personificava V no filme V de Vingança.

Para esse grupo a força da revolta encontrou sua estetização na máscara de V. O que deveria ser mais um filme bobo de Hollywood feito para faturar uma porrada de dólares, virou para aqueles que protestaram com o rosto de V no lugar do seu próprio um símbolo de sua idéia, a personificação de suas vontades.

Eles não eram V, eles não precisavam ser, V é usado para comunicar suas revoltas. A estetização da revolta é o que é o rosto de V neste protesto, a máscara é uma mentira que explica a verdade. Assim, como os gregos entendiam que a verdade não poderia ser entendida a não ser pela mentira, por isso a mitologia e o teatro, aqueles que protestaram não precisavam dizer uma palavra, apenas era preciso estar lá com aquela máscara naquele local.

Máscara passou a esconder o rosto, mas, ao esconder revelou um pacto silencioso com a democracia. Não era preciso ser dito com a verdade, apenas precisava ser dito. É na mentira da arte que reside a salvação.

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