No
mundo dos lugares comuns, o ócio é o pai da arte e da filosofia. Esse mundo tem
suas razões, mas ainda acredito que ócio enquanto tempo de reflexão ainda é
pouco para explicar a origem da arte e da filosofia. Talvez o tédio, o mesmo que fez criar toda uma
maquinaria de entretenimento, que me parece ser o ponto de partida das criações
mais refinadas dos homens.
O tédio numa madrugada sem sono, o
quarto iluminado pela tela do computador, o prompt que pisca no simulacro
digital de uma folha em branco... Pode
levar a qualquer um para um cidade sitiada na qual não se pode mais esperar a
chegada de cavaleiros rompendo o cerco. Neste cenário, só há uma chance de sobrevivência,
romper o cerco.
Assim sendo, o olho não está mais no
prompt. É nas teclas mal iluminadas que o olhar passeia, é um alfabeto sem
sentido entre Q e o M está todas as chances da salvação nesta madrugada.
Escreve, apaga, fecha o programa, reabre... Mesmo que nada tenha sido feito as
ultimas meia hora foram as mais rápidas do todas as insoniferas horas que até
tão teimaram em não passar. Mas, escrevendo, apagando, fechando e reabrindo o
programa um texto satisfatoriamente esquisito se forma.
Esse texto não mais filho do idílico
ócio, mas filho da outra, do tédio e tédio com um T bem grande. Não sei do
ócio, mas alguns outros são filhos do tédio. Pois o ócio seria apenas o tempo
em que eu posso me dedicar a algo, enquanto o tédio me impõe ao movimento. Cercando
os muros de uma cidade que se amedronta.
Mas, o cerco é rompido quando as
portas das cidades são abertas e o exercito invasor entra triunfante logo
percebendo que já não ninguém ali.