Eu vejo as pernas de louça da moça que passam e eu não posso pegar,
Tô me guardando para quando o carnaval chegar
(Chico Buarque, Quando o Carnaval Chegar)
Tô me guardando para quando o carnaval chegar
(Chico Buarque, Quando o Carnaval Chegar)
Talvez
o Chico esteja certo, uma hora para tudo e para tudo uma hora. E o carnaval
sempre chega, não é mesmo? Talvez o
mundo esteja certo, o Chico está certo, tudo está certo. Mas, eu não
preciso/quero está certo. Talvez um tanto de teimosia e outro tanto de cinismo,
mas eu não quero está certo. Eles podem até ter razão, mas a razão é só que
eles têm. Eu não quero me guardar para nenhum carnaval. O carnaval deve ter lá
suas razões. O defeito deve ser meu mesmo, eu admito.
É
ruim pegar o caminho oposto, mas é bom, mas é ruim, mas é bom, mas é ruim, mas
é bom... Ah é a vida. Enquanto tantos esperam o carnaval chegar, eu prefiro
está na esquina e desejar o agora e o amanhã também, amar ontem e depois de ontem
também. Amar e desejar são verbos que eu prefiro conjugar em mais de um tempo simultaneamente.
Afinal eu não quero a economia do desejo.
E é
o amor, por mais piegas que isso seja, que rompe essa economia do desejo. Eu
desejo ela ontem, hoje e amanhã, não preciso guardar isso para o quando o
carnaval chegar. Talvez isso seja ruim, mas é bom, mas é ruim, mas é a vida.