21 de dez. de 2011

Esquina





Eu vejo as pernas de louça da moça que passam e eu não posso pegar,
Tô me guardando para quando o carnaval chegar
(Chico Buarque, Quando o Carnaval Chegar)









Talvez o Chico esteja certo, uma hora para tudo e para tudo uma hora. E o carnaval sempre chega, não é mesmo?  Talvez o mundo esteja certo, o Chico está certo, tudo está certo. Mas, eu não preciso/quero está certo. Talvez um tanto de teimosia e outro tanto de cinismo, mas eu não quero está certo. Eles podem até ter razão, mas a razão é só que eles têm. Eu não quero me guardar para nenhum carnaval. O carnaval deve ter lá suas razões. O defeito deve ser meu mesmo, eu admito.

É ruim pegar o caminho oposto, mas é bom, mas é ruim, mas é bom, mas é ruim, mas é bom... Ah é a vida. Enquanto tantos esperam o carnaval chegar, eu prefiro está na esquina e desejar o agora e o amanhã também, amar ontem e depois de ontem também. Amar e desejar são verbos que eu prefiro conjugar em mais de um tempo simultaneamente. Afinal eu não quero a economia do desejo.
E é o amor, por mais piegas que isso seja, que rompe essa economia do desejo. Eu desejo ela ontem, hoje e amanhã, não preciso guardar isso para o quando o carnaval chegar. Talvez isso seja ruim, mas é bom, mas é ruim, mas é a vida.
Tudo isso possa ser um defeito, não necessariamente meu. Mas, eu gosto do efeito desse defeito em efeito dominó. E esse é necessariamente meu. Vocês que se guardem para o carnaval! Que eu vou ficar por ali, naquela esquina entre o Carnaval e Dia de Finados, um bom lugar para olhar o movimento. 







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