19 de mai. de 2010

Inércia



Desespero, pele cinza, enrugada, cabelos sujos, olheiras, caninos a mostra, nudez, um corpo baixo e gordo, ratos, seios caídos, barriga enorme. Um anel com anzol que é arrastado pelo corpo, sangue. Cicatrizes. Dor. Voz rouca e arrastada. Desespero.

O anzol que carrega no dedo busca o coração. Os seres são os alvos. Desespero é alheio aos dramas, as ações. Ela habita os desacontecimentos, o cotidiano, ela espreita a travessia. Ela é o Perpétua que está a tua espera. Não habita no surpreendente, não está nos acontecimentos.

Ela está além do bem e do mau, certo ou errado não existe. Para Desespero não existe solidão, uma vez visto que a solidão só existe diante do Outro. Desespero destrói a dimensão do outro para destruir a dimensão do eu. Eu sou o primeiro Outro, o fim disto é Desespero.

Desespero é a inércia do coração.

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